Já podem bater na porta de Bolsonaro. Por Moisés Mendes

Atualizado em 29 de setembro de 2024 às 18:12
Jair Bolsonaro. Foto: Reprodução

A rejeição a Bolsonaro nessa eleição, por parte de eleitores e de parceiros de luta, é mais do que constrangedora para quem pretendia ser visto, por muito tempo, como líder da extrema direita que vinha engolindo a velha direita.

É muito mais do que ser abalado pelo desprezo de liderados. É pior do que ter a prova da desimportância da sua imagem até para o fascismo. É também mais desmoralizante do que saber que, além de não atrair votos, ele atrapalha as campanhas.

É mais complicado do que perceber que, no embate que não desiste de fazer com Lula, ele afugenta possíveis eleitores de Ricardo Nunes e de outros candidatos, enquanto Lula atrai eleitores para Guilherme Boulos e nomes das esquerdas em cidades grandes e médias.

O pior do que não significar quase mais nada e ser rejeitado é saber que, exatamente por enfrentar essa degradação, deverá ser completamente abandonado como um leão velho, sem dentes e imprestável. E que, sem a proteção dos seus, finalmente será alcançado pelo sistema de Justiça.

Bolsonaro foi escondido nos biombos das campanhas da direita. Só aparece, mais como gesto de desespero, nas propagandas de Alexandre Ramagem no Rio e de outros do terceiro time da extrema direita. Todos com chances mínimas de chegar ao segundo turno.

Candidatos que conseguiram calibrar seus reacionarismos e se posicionar bem nas pesquisas, nas grandes capitais, não querem saber de Bolsonaro por perto. Como Nunes em São Paulo e Sebastião Melo em Porto Alegre.

Não há mais, por maior que seja o esforço até de parte da grande imprensa, conexões entre sucesso eleitoral e bolsonarismo, na velha e na nova direita. Bolsonaro é um espantalho assustando eleitores fiéis e indecisos.

É nessa situação, com a imagem aos frangalhos, que Bolsonaro será associado a fracassos e não terá nenhum vínculo com eventuais vitórias da direita. É assim, sem forças, que ele pode esperar o cerco final do Ministério Público e do Judiciário.

A campanha às eleições municipais preparou uma armadilha para Bolsonaro, por expor suas fragilidades. Nenhum outro teste é mais importante hoje do que esse que o denuncia como estorvo para os seus aliados.

Bolsonaristas em busca de consolo podem dizer que na campanha de 2014, quando Dilma venceu Aécio, o PSDB tentou esconder Fernando Henrique Cardoso. Não é a mesma coisa.

FH teve a imagem depreciada pelos desastres do segundo governo, mas não se envolveu com nada parecido com o conjunto de crimes que acabou com a força política de Bolsonaro.

Não há mais o que fazer. Depois da eleição, a qualquer momento poderão bater nas portas de Bolsonaro e de todos, civis e militares, que ele puxou para o golpe e para os delitos que cometeu.

Daqui a pouco mais de um mês, antes do verão e do recesso do Judiciário, passado o segundo turno, o cenário agora esboçado estará definido. Com o abandono de Bolsonaro, ficou mais fácil para Paulo Gonet e Alexandre de Moraes.

Desde 2021, o autor deste blog enfrenta na Justiça quatro processos do empresário Luciano Hang, o autoproclamado véio da Havan.

Originalmente publicado em Blog do Moisés Mendes