Leio trechos da entrevista que Jacqueline Kennedy concedeu a um historiador amigo pouco tempo depois do assassinato de seu marido. São oito horas de vídeo.
A condição era que o conteúdo só fosse publicado muitos anos depois de sua morte.
É um documento histórico fascinante. Você vê o casal Kennedy sob um ângulo menos glacial do que aquele a que estávamos habituados. A percepção que a humanidade teve é que foi um dos casamentos mais insípidos, mais hipócritas e mais melancólicos da história do poder americano, ambos jovens e bonitos e ricos, mas ela fria, ele um mulherengo doentio, unidos apenas pela conveniência política.
Mas ali Jackie conta que, no auge da Guerra Fria, em 1962, quando por algum momento o planeta parecia à beira do extermínio nuclear, ela disse ao marido que gostaria de morrer a seu lado.
É um depoimento extraordinariamente franco.
Jackie diz que Kennedy idolatrava Churchill por seu papel na Segunda Guerra, mas quando pôde enfim conhecê-lo pessoalmente, nos anos 1950, ele estava “gagá”. Ela se refere a Luther King como um “homem terrível”. Diz que seu cunhado Bob contou a ela que King estava “drogado” no funeral de seu marido. Sobre o vice Lyndon Johnson, Kennedy, segundo Jackie, disse que seria um pesadelo para os americanos se o acaso o colocasse na Casa Branca.
Jackie conta também que Kennedy se perguntava se Lincoln teria a estatura histórica que adquiriu caso não tivesse sido assassino. Quando num enfrentamento com os soviéticos ele se saiu bem, disse brincando que se alguém tivesse que matá-lo “aquela era a hora”, pois ganharia as dimensões épicas de Lincoln.
Não demorou muito e as balas assassinas alcançaram Kennedy. Mas a história acabou sendo bem menos generosa com ele do que com Lincoln. A maior lembrança que ficou de Kennedy foi seu apetite descomunal por mulheres – o que jamais impediu que fosse sinceramente amado, como se vê agora, por Jackie.