Janis Joplin: Little Girl Blue é mais um documentário sobre uma mulher sensacional que sofreu uma decadência precoce.
Dirigido por Amy J. Berg e fruto de sete anos de pesquisas, compila imagens raras e documentos nunca antes acessados pelo público.
Quando digo “mais um”, não quero, portanto, assumir um tom de escárnio, muito pelo contrário, aliás. O filme é sensível, tocante e real. Permeado por cartas viscerais de Janis à sua família, o que confere ao documentário um tom intimista indispensável em filmes desse tipo, adentra a alma da cantora.
Digo “mais um” porque a história de Janis – não da mãe do Blues, mas da Janis mulher – guarda semelhanças assustadoras com as histórias de outras musas intensas, inesquecíveis e problemáticas da história recente da arte ocidental – Amy Winehouse, Marilyn Monroe e Maysa Matarazzo, por exemplo.
Sucesso, drogas, morte precoce e almas desajustadas: tantas semelhanças não podem ser coincidência. Fico tentada a atribuí-las a muitas coisas, o que seria no mínimo petulante, se considerarmos as tantas peculiaridades das almas humanas – especialmente das almas femininas e artísticas.
Seriam essas mulheres apenas desajustadas às cobranças que a sociedade nos apresenta desde sempre? Estariam apenas exaustas das pressões que a fama impõe? Ou teriam sido suas imagens manipuladas por uma mídia que sempre precisou de grandes estrelas polêmicas para grandes holofotes?
Elas todas tinham seus homens – seus amores, seus males e seus remédios. Blake, que apresentou heroína a Amy; Kennedy, que manteve com Marilyn, o maior símbolo sexual de todos os tempos, uma relação no mínimo questionável; André Matarazzo, que jamais conseguiu conter a alma inquieta de Maysa; e Jim Morrison (não citado no documentário, não se sabe o porquê) que teve uma garrafa de uísque quebrada na própria cabeça por Janis, depois de tentar puxar-lhe o cabelo a procura de atenção.
O que há em comum entre essas mulheres, além da óbvia dificuldade em lidar com a fama e o assédio, é a busca pelo grande amor, as prioridades românticas que contrariam suas personalidades fortes e que colaboraram indiscutivelmente para as suas respectivas decadências.
E talvez a semelhança mais importante de todas: o desejo de serem livres em um mundo que as engolia.
“Ela não era agressiva, mas não era submissa”, disse um amigo sobre Janis Joplin, e o mesmo comentário serviria para qualquer uma dessas mulheres incríveis e precocemente tiradas de nós: elas não foram submissas, não obedeceram a nenhum modelo, apenas viveram exatamente como quiseram, ao menos enquanto lhes era possível.
Clarice Lispector, em uma entrevista a Vinícius, disse que jamais se ajustaria à fama. E não está sozinha, afinal: nenhuma destas mulheres jamais se ajustou. Todas, invariavelmente, tiveram problemas com a imprensa, foram retratadas pela mídia como loucas e indomáveis, quando, na verdade, arrisco dizer, queriam apenas viver suas vidas.
Amy morreu aos vinte e sete, depois de doses cavalares de drogas, assim como Janis. Marilyn foi encontrada morta depois de ingerir dezenas de comprimidos para dormir. Maysa morreu em um acidente de carro, em meio a (mais) uma fase problemática. O que houve no fatídico intervalo entre seus momentos de glória e suas respectivas imagens decadentes nos jornais jamais passará de suposição.
Paul McCartney respondeu à pergunta óbvia e necessária que poucas vezes foi feita, e que talvez se relacione com o fato de todas essas incríveis mulheres terem tido fins tão problemáticos:
“Por que as pessoas se drogam? As pessoas se drogam porque não suportam a pressão”.