É bem verdade que tudo que surgiu no Brasil pós-2016 transitou numa seara de absurdos de magnitude tal que fica difícil escalonar o que de pior aconteceu no país.
Mas o fato do chefe do Ministério Público confessar que ingressou nas dependências do STF com uma pistola carregada com a intenção de assassinar um dos ministros da mais alta Corte da República, é daquelas coisas que estarrecem de inúmeras formas.
Fora tudo o que está implicado naquilo que muito bem poderia ser descrito como uma verdadeira tragédia nas mais altas esferas da justiça brasileira, um ponto em particular precisa ser devidamente apontado.
Muito mais do que aquilo que juridicamente seria categorizado como crime passional, independentemente de o fato narrado não ter tido o seu desfecho consumado, o que resta evidente é a natureza descompensada, criminosa e cruel que tomou conta de uma das mais importantes instituições de nossa já cambaleante democracia.
Rodrigo Janot, que segundo ele próprio não se transformou num homicida de fato por questões de segundos, é, por outro lado, um contumaz assassino de reputações e irrecuperável infrator das leis que, por dever de ofício, deveria mais do que ninguém as respeitar.
E para muito longe do que alguém mais desavisado poderia supor como um caso isolado, o que o então representante máximo do Ministério Público fez e “quase-fez”, não pode ser definido como outra coisa senão como a mais fiel representação do que atualmente está se passando no seio de suas mais importantes operações.
Se pegarmos a Lava Jato como exemplo – da qual Janot utilizou-se à exaustão como meio de autopromoção e perseguição pessoal aos seus adversários – veremos que os mesmos sintomas se replicam de maneiras similares.
A mesma crueldade demonstrada pelo Procuradores de Curitiba reveladas através das conversas vazadas pelo Intercept em relação às mortes do irmão e do neto de Lula, é, por assim dizer, efeito direto dos sentimentos nauseabundos que se espalharam entre aqueles que viram na função pública o meio decisivo para a instalação de um perigoso projeto de poder.
Da mesma forma, a desumanidade dessa mesma Lava Jato de tentar impor a prisão comum a um septuagenário que não por acaso já foi presidente da República por dois mandatos, também representa uma maneira bastante eficaz de apontar e disparar uma arma carregada contra a cabeça de alguém que pessoalmente se considera um inimigo.
É preciso sermos claros com o que definitivamente está se passando nesse país.
A desmoralização da justiça brasileira é apenas mais um efeito colateral da violenta luta por poder que está sendo travada à luz do dia pelos pilares da República Federativa do Brasil.
Absolutamente corrompidos, os poderes Executivo, Judiciário e Legislativo disputam a hegemonia no que sobrou de terra arrasada pelo golpe parlamentar de 2016.
O MPF, que pelo menos nesse país jamais representou efetivamente a luta pela promoção da justiça, mostra que para ganhar está disposto a tudo. Até a matar.
E, não custa lembrar, prova disso é que Rodrigo Janot, que chegou a engatilhar uma pistola a esse propósito, foi ninguém menos do que o escolhido legítimo pela classe dos procuradores na lista em que julgam quem melhor os deveria representar.
Justiça seja feita, é realmente o retrato definitivo do que se transformou o MPF.