Jean Wyllys apoia PL das Fake News e defende “vacinação em massa” de Lula contra desinformação

Ex-deputado concedeu entrevista ao Essencial do DCM

Atualizado em 9 de maio de 2023 às 16:41
Jean Wyllys, Janja e Lula
Jean Wyllys, Janja e Lula. Foto: Reprodução/Instagram

O ex-deputado Jean Wyllys encontrou-se com o presidente Lula e com a primeira-dama Janja em abril. Pesquisador sobre fake news e desinformação na Universidade de Barcelona, Wyllys defende o PL das Fake News.

Ele defendeu o PL 2630 no programa Essencial do DCM, lembrando dos ataques de mentiras que sofreu na eleição de Jair Bolsonaro em 2018. 

O ex-deputado também falou sobre sua conversa com Lula e Janja. Ele defende que o governo Lula faça uma “vacinação” contra a desinformação da extrema direita.

Confira os principais trechos.

Regular big techs e regular automóveis

O PL das Fake News, do texto inicial até o final, sofreu muitas alterações. Mas é inegável que é um primeiro passo para regulamentar uma tecnologia que está cada vez mais presente nas nossas vidas. Modificando nossos comportamentos e alterando nossas dinâmicas sociais.

Vou usar uma metáfora. Quando o automóvel surge, ele surge sem regulamentação. É uma tecnologia que estava sendo inserida na sociedade e os motoristas tinham liberdade de conduzir. Não havia leis de trânsito. Não havia leis que regulamentassem a concessão de habilitação. Não haviam leis que coibissem a combinação de álcool e direção. 

Ou seja, essa tecnologia exigiu que toda uma regulamentação fosse construída para colocar limites a ela em favor da humanidade, em favor da sociedade. O mesmo acontece agora com as redes sociais.

Com a seguinte diferença, que é uma diferença grande. A internet, que é esse ambiente comunicacional, que corresponde a uma infraestrutura global de redes de fibra ótica, satélites, hardwares distintos, dos microcomputadores aos grandes computadores, tablets e afins, é colonizado pelo que chamamos de big techs.

Big tech ou as grandes plataformas de comunicação. Essas plataformas de comunicação, para usar uma expressão de Pierre Levy, estudioso dessas tecnologias há muito tempo, podem ser chamadas de “Estados-plataforma”. 

Porque de fato elas se constituíram como Estados sobre os Estados-nações. Não é só o Brasil que enfrenta o desafio de regular a atuação das big techs.

Outros países, aqui na Europa por exemplo, enfrentam esses “Estados” que são de fato Estados-supranacionais. 

E eles não querem corresponder às distintas legislações de cada país.

Cada país vai encontrar sua forma de regulamentar as big techs. As plataformas não querem corresponder a cada uma dessas regulamentações. Eles alegam que é impossível atender às distintas regulamentações.

Claro que isso não é difícil e tampouco impossível. No entanto, se eles continuarem operando como operam, ganharão muito mais dinheiro. 

CEOs como Elon Musk e Zuckerberg [da Meta, do Facebook] ganharam muito dinheiro e terão cada vez mais poder se isso continuar assim. Então, sim, o projeto de lei é uma grande iniciativa.

E isso não significa que não devam existir outras iniciativas no âmbito do judiciário. A gente está falando com o PL de uma iniciativa legislativa e o Poder Judiciário deve seguir cumprindo a sua função. Com ações individuais de combate às fake news.

E deve haver uma resposta cultural a essas plataformas. 

“Vacinação em massa” contra a desinformação

Quando eu estive com o presidente Lula em Madri, ficou evidente na nossa conversa de quase três horas que esse assunto da tecnologia preocupa muito o presidente da República.

Conversamos muito sobre esse tema. Eu, ele e Janja. Quais seriam as saídas e quais seriam os caminhos. E, além desse caminho legislativo, disse ao presidente que precisamos de um caldo cultural. Precisamos de uma “vacinação em massa” contra a desinformação.

E como esse tipo de vacinação pode acontecer? Com ação governamental, interministerial simultânea, contra a desinformação. 

Combinei também com a primeira-dama Janja de envolvê-la diretamente nessa ação.

Todos os ministérios que trabalham tecnologia, o ministério da Saúde, da Cultura, da Educação, da Igualdade Racial, o dos Direitos Humanos, dos Povos Indígenas, Ciência e Tecnologia, todos. Tem que ser uma ação conjunta. Um mês contra a desinformação com cada um desses ministérios atuando e distribuindo informação e levando formação a respeito de suas áreas em particular.

As escolas públicas terem uma semana para convidar especialistas, fazer formação de professores sobre fake news e como as pessoas podem ser enganadas. Quais são as novas tecnologias explicadas de uma maneira muito didática. As tecnologias de fraude que estão disponíveis para criminosos.

Tem que existir uma vontade governamental. E eu sei que Lula tem essa vontade. E uma vontade de seus ministros para construir esse caldo cultural. Essa ação é uma espécie de vacinação em massa e pode ajudar muito o governo nesse momento. 

“Plataformas digitais não têm preocupação com seus conteúdos”

Escrevi um artigo sobre a maneira como o Lula foi tratado quando visitou a China e quando recebeu a visita do chanceler russo em seguida. Depois eu fiz um programa chamado O Informante na plataforma Open Democracy, afirmando que os dois principais inimigos do governo Lula são a sabotagem do Banco Central e as desinformações.

Então o novo governo do Lula precisa criar mecanismos contra esses dois inimigos para poder ter mais sucesso. A aprovação do governo do governo Lula ainda está acima de 50%. 

Só que essas forças de desinformação colocam que já perdemos essa batalha e que a comunicação do governo é ruim.

Eu não sou pessimista nesse sentido. Acho que a Secretaria de Comunicação [Secom, chefiada por Paulo Pimenta] pode melhorar suas ações e isso não quer dizer que ela não vem trabalhando.

Essa batalha não está perdida. 

A desinformação no Brasil envolve aspectos históricos do país. E estamos vivendo um momento não só no Brasil, mas no mundo.

Nesse momento, as pessoas estão abrindo mão de fatos para apresentar suas versões. Os fatos não mais importam.

O que importa é aquilo que é coerente para mim e o que é coerente para os meus preconceitos. É daí que vem esses problemas todos que a gente tá enfrentando no mundo. Como, por exemplo, o movimento antivacina.

Dentro da extrema direit,a o movimento de vacina é um movimento que prejudica a saúde pública no mundo. Vou pegar como gancho o que Flávio Dino respondeu para aquele imbecil motivado que é o Deltan Dallagnol.

Aliás, é surpreendente ver a atuação desse sujeito na Câmara dos Deputados e imaginar que esse sujeito foi procurador da República. Assustador.

A corrupção contra a saúde pública ameaça a saúde do nosso planeta. Se aparecer um vírus novo, se ele entrar em circulação, esse movimento sabota e ameaça todo o conjunto de ações dos governos.

O Bolsonaro é antivacina. O movimento bolsonarista é contra a vacina, como vimos na prisão desse coronel Cid. A lógica é matar o maior número possível de pessoas, criando a imunidade de rebanho. Por isso ele não vacinou a própria filha de 12 anos.

Essa desinformação é uma grande ameaça às democracias no mundo, de todo o mundo democrático e aos diferentes esforços para tentar conter essa onda.

A irresponsabilidade das plataformas é porque elas não têm preocupação com conteúdo. Ao contrário. O que a gente chama de algoritmo é um programa por meio do qual operam as mídias sociais.

Esses programas foram construídos para estimular determinados comportamentos, que é o comportamento odioso das pessoas e para e justamente para gerar mais interação.

E para manter as pessoas mais tempo naquele fluxo de informação e de desinformação.

A plataforma promove muito mais esses conteúdos que produzem esse efeito ativo. Uma droga. A raiva, o ódio, esse ressentimento é um combustível e um sentimento que faz do que as pessoas fiquem muito mais tempo nas mídias sociais.

As pessoas gastam muito mais tempo das suas vidas nas mídias sociais, ficando muito mais sujeitas à publicidade, podendo comprar muito mais.

Em última instância, o objetivo é esse é levar as pessoas a consumirem propaganda. E não só propaganda de produtos, mas sim propagandas políticas.

Ficou evidente que as plataformas têm esse modelo. Como elas operam para sugerir conteúdo, eles fazem a manipulação dos comportamentos.

Isso em uma série de vídeos no YouTube inibem a escolha. Como você está naquele fluxo de informação, você vai consumindo. E nessa distribuição há muitos conteúdos mentirosos de conteúdos negacionistas ou revisionistas históricos como aquele Brasil Paralelo.

Eles atentam contra a memória histórica e falsificam, inclusive praticando assédio jurídico aos intelectuais que os criticam.

Veja a entrevista completa.

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