Quando Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes foram brutalmente assassinados por criminosos ligados às milícias do Rio de Janeiro das quais a família Bolsonaro tanto defendem e acobertam, o país retornava oficialmente a uma era de terror patrocinada pelo próprio Estado.
O envolvimento tácito de “políticos poderosos” numa chacina motivada por interesses mais do que escusos provou que “o sistema é foda” e não reconhece fronteiras morais.
“Exterminar os inimigos” passou a ser um termo cujo sentido nunca foi levado tão a sério e ao termo nos sempre vistosos e polidos salões do poder.
As bandas podres das classes política e militar, tal qual na ditadura de 64, novamente juntaram suas forças para que seu poder restasse garantido. Tudo sob o tradicional e infalível método da tortura e morticínio.
O Estado de Sítio não oficializado passou a vigiar civis e políticos não “alinhados” à nova/velha ordem nacional.
É nesse contexto que o Brasil recebe escandalizado a notícia de que o deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) se vê obrigado a renunciar o seu mandato popular e democrático sob as mais covardes ameaças à sua integridade física.
O episódio em si já é mais um atentado brutal não só contra um ser humano, mas, sobretudo, à própria vida política, democrática e republicana desta nação.
Que um legítimo representante do povo tema pela sua vida ao ponto de abandonar sua carreira política e de se exilar do país que nasceu e tanto lutou por igualdade e justiça social é o verdadeiro atestado de falência de nossas instituições.
Por tudo o que passou e ainda passa, a decisão de Jean Wyllys não é só sábia, mas corajosa, por mais que doa atestar que para um homossexual, ativista e político de esquerda a sabedoria e coragem precisem ser tão amplamente utilizados para garantir tão somente o seu direito universal do livre pensar.
Essa medida drástica e traumática, desesperador reconhecer, possui todos os fundamentos sólidos quando, para além de tudo, vem do atual presidente da República a comemoração mais cínica, covarde, vil e desrespeitosa para com um membro oficial do parlamento brasileiro.
Jair Bolsonaro, até por causa dele mesmo, prova que todos os temores de Jean Wyllys são reais e estão na iminência de serem cometidos.
Sair temporariamente da política e do Brasil é a forma possível que um gigante encontrou de permanecer, mais do que nunca, na política e no Brasil.
Ninguém espera que Jean Wyllys diminua a sua luta e sua esperança por um país melhor. Vai para o exterior para estudar e se preparar cada vez mais para uma guerra cujas batalhas são travadas sucessivamente no decorrer da história.
A todos nós progressistas que aqui permanecemos, todo o nosso apoio e solidariedade nesses dias tão obscuros.
Vá, seja feliz e, mais do que tudo, volte. A sua vida, para nós, será nosso ato de resistência.