PUBLICADO NA REDE BRASIL ATUAL
POR GLAUCO FARIA
Após vencer na Carolina do Sul, a Super Terça mostrou que o ex-vice-presidente Joe Biden voltou à cena na corrida pela nomeação do Partido Democrata e desponta agora como favorito à nomeação.
Dos 14 estados e um território em disputa ontem (3), ele venceu nove, inclusive em estados nos quais se esperava vitória do senador de Vermont, Bernie Sanders, até o início desta semana, como Minnesota, Massachusetts e Texas.
Sanders venceu no Colorado, Utah e Vermont, e deve vencer também na Califórnia, estado mais populoso em disputa, mas a margem deste triunfo ainda é desconhecida. Ainda com a apuração em andamento em alguns estados, as projeções indicam que Biden pode ter conquistado 399 delegados nesta Super Terça, contra 322 de Sanders. No total, o ex-vice presidente teria 453 até agora, e o senador de Vermont, 382.
Os resultados vêm após uma “tempestade perfeita” a favor de Biden. Após sua expressiva vitória na Carolina do Sul, ele foi beneficiado pelas desistências e endossos à sua candidatura por parte de Pete Buttgieg e Amy Klobuchar.
Mesmo contando com uma rede presencial menor que seus adversários, com escritórios em apenas cinco estados da Super Terça, Biden conquistou a maior parte dos chamados “votos tardios”, daqueles eleitores democratas que decidiram seu candidato mais proximamente à votação. Outro fator, entretanto, colaborou para a a virada de Biden: a “simpatia” geral da mídia comercial, a mesma que rejeita Sanders.
O consultor Kevin Cate cita dados da base de monitoramento de mídia Critical Mention para mensurar o tamanho do apoio “informal” dado a Biden pelo noticiário positivo em prol do candidato. “Entre as pesquisas pós-votação da Carolina do Sul fechadas no sábado e as 19h da Super Terça, Joe Biden conseguiu o equivalente a US$ 71.992.629 em mídia nacional quase inteiramente positiva”, afirma. “Adicione a mídia local nesses mercados e ele supera facilmente US$ 100 milhões em mídia conquistada em 72 horas.”
A Super Terça também serviu para reforçar como cada um dos dois principais candidatos tem segmentos distintos de apoio. “Existem algumas linhas divisórias verdadeiramente interessantes e importantes no eleitorado democrata – os eleitores negros estão mais com Biden, os hispânicos mais com Sanders; os eleitores mais velhos estão mais com Biden, os jovens estão mais com Sanders; eleitores moderados estão mais com Biden; eleitores muito liberais estão mais com Sanders. E os homens apoiam desproporcionalmente Sanders, então também veremos uma lacuna de gênero com Biden (o que ainda não apareceu de forma consistente)”, analisa Micah Cohen, um dos editores do site FiveThirtyEight.
O que farão Michael Bloomberg e Elizabeth Warren?
Após a Super Terça, pairam dúvidas sobre os destinos das candidaturas da senadora de Massachusetts Elizabeth Warren e do bilionário Michael Bloomberg.
Após concentrar US$ 350 milhões nos estados da Super Terça, Bloomberg teve resultados decepcionantes inclusive onde esperava vencer. É o caso de estados como Virgínia, Oklahoma e Colorado. O bilionário venceu apenas no pequeno território da Samoa Americana, ficando em terceiro ou quarto lugar nos demais estados, com exceção do Colorado onde ficou em segundo.
Segundo o site Politico, a pressão para que ele desista ficou ainda maior. Um de seus assessores teria dito que a quarta-feira seria um dia de “acerto de contas”. “À medida que os resultados chegam, está claro: não importa quantos delegados conquistemos hoje à noite, fizemos algo que ninguém mais pensava ser possível. Em apenas três meses, passamos de 1% nas pesquisas para competir à indicação democrata”, disse Bloomberg em discurso realizado na noite de terça, negando a possibilidade de renúncia.
Já Elizabeth Warren ficou apenas em terceiro lugar em seu próprio estado, com aproximadamente 21% dos votos, atrás de Sanders (26%) e Biden (33%). Ela superou o limite mínimo para conseguir delegados, 15%, só em outros dois estados, Minnesota e Maine.
Os resultados fazem com que mais figuras da esquerda do Partido Democrata trabalhem pela sua renúncia em prol de Bernie Sanders, movimentação que já havia aumentado após o alinhamento de Amy Klobuchar, Pete Buttigieg e Beto O’Rourke em prol da candidatura de Joe Biden.
“Se Warren tivesse desistido e apoiado Bernie quando os centristas saíram e apoiaram Biden, os progressistas teriam uma chance de lutar. Ela ficou para conseguir o 3º lugar em seu estado natal”, pontua a jornalista e âncora norte-americana Krystal Ball.
O que Sanders pode fazer a partir de agora?
O voto feminino tem sido um calcanhar de Aquiles para Sanders nas primárias de 2020. Nas quatro primeiras prévias ele contou com menos apoio neste segmento da população do que entre o eleitorado masculino. Em New Hampshire, por exemplo, ele teve 31% entre os homens e 23% entre as mulheres, proporção que chegou a 24% e 17%, respectivamente, na Carolina do Sul.
Em função disso, muitos acreditam que a definição de uma possível vice poderia alterar a essa situação. Cogita-se desde Elizabeth Warren, caso ela venha a desistir de sua candidatura, até outra ex-presidenciável, a senadora californiana Kamala Harris.
Para o apresentador do Secular Talk, um programa de entrevistas de linha progressista Kyle Kulinski, Sanders precisa dizer “aos eleitores que o esforço altamente organizado para derrubá-lo é porque ele representa a vontade do povo e não dos doadores corporativos”. “Enfatize que Biden é o extremista, não você. Você é moderado”, recomenda ao senador.
As próximas prévias do Partido Democrata estão marcadas para 10 de março.