Jogo do Tigrinho para crianças: influenciadores mirins promovem jogos de azar

Atualizado em 25 de agosto de 2024 às 18:36
Adolescente no Jogo do Tigrinho: vício em crianças e adolescentes pode levar a comportamentos violentos, abuso de álcool e de outras drogas, depressão e ideação suicida — Foto: Leo Martins/Agência O Globo

A influência digital de crianças e adolescentes tem preocupado autoridades e especialistas. Um garoto de 8 anos, com mais de 2 milhões de seguidores no Instagram, compartilha imagens com cédulas de R$ 50 e R$ 100,  e promete ganhos fáceis através de apostas em jogos de azar como o Fortune Tiger. Uma menina de 13 anos afirma que nasceu para ser “milionária, e não funcionária”, exibindo supostos lucros do mesmo jogo de cassino online, que usa cores vibrantes e personagens de desenho animado para atrair o público.

Essa crescente promoção de jogos de azar por influencers mirins levou o Instituto Alana a denunciar a Meta, empresa controladora do Instagram, ao Ministério Público de São Paulo.

A organização identificou ao menos dez perfis de influenciadores com idades entre 6 e 17 anos promovendo sites de apostas. Esses perfis têm seguidores jovens que também se veem atraídos pela publicidade colorida e envolvente dos jogos, contribuindo para o vício em apostas, que agora já penetra o ambiente escolar.

A coordenadora do programa Criança e Consumo do Instituto Alana, Maria Mello. Foto: Reprodução

Grande parte dos publiposts são gravados pelos próprios pais ou responsáveis das crianças influenciadoras, muitas vezes envolvendo sorteios de motos, celulares e dinheiro. Esses conteúdos, focados em cassinos online, costumam ficar disponíveis por 24 horas e incluem links para plataformas de apostas. A coordenadora do programa Criança e Consumo do Instituto Alana, Maria Mello, alerta que a falta de regulação e fiscalização agrava a violação dos direitos das crianças, imersas nessa teia ilegal de publicidade.

O impacto dessa publicidade é claro. Gislene Barros, coordenadora do grupo Jogadores Anônimos em Juiz de Fora (MG), relatou o caso de uma mãe desesperada cujo filho de 13 anos havia se viciado em apostas online, utilizando o CPF de um parente e o cartão de crédito da mãe, resultando em um prejuízo de mais de R$ 4 mil. Segundo especialistas, como o psiquiatra Daniel Spritzer, crianças e adolescentes são de duas a quatro vezes mais vulneráveis do que adultos a desenvolver problemas relacionados a apostas.

Dentro das escolas, professores relatam que adolescentes estão cada vez mais envolvidos com apostas durante o recreio e até durante as aulas. Influenciados por vídeos de influenciadores que ostentam riqueza, muitos jovens acreditam que podem ganhar dinheiro rapidamente através das apostas, o que tem levado a comportamentos preocupantes, como inquietação e dificuldades acadêmicas.