PUBLICADO NO TIJOLAÇO
POR FERNANDO BRITO
A delicadeza com que os portais dos grandes jornais tratam o flagrante de tráfico internacional de drogas no avião presidencial reserva da comitiva de Jair Bolsonaro ao Japão, quando um dos militares foi detido com 39 kg de cocaína.
A palavra “tráfico” usada aqui com qualquer rapazote pega com meia dúzia de papelotes, com alguns poucos gramas, não se aplica a um militar pego com esta quantidade que, para você fazer ideia, é quase o peso de dois aparelhos de ar condicionado de 7 mil BTU. Sequer pode ser carregada por alguém sozinho, por muita distância.
Para uso próprio não era, porque, segundo a literatura médica, a quantidade suficiente de cocaína capaz de causar uma overdose, seguida de parada cardíaca é de 1,2 g. Portanto, o suficiente para 3.250 overdoses.
Nos jornais, não se usa tráfico nas manchetes dos principais sites de notícias.
Entenda o caso do militar preso por transportar cocaína em avião da FAB, diz o Estadão. Militar preso na Espanha com cocaína já fez outras viagens no escalão avançado da Presidência, diz o Globo, na mesma linha da Folha que chama com um “Sargento preso com cocaína na Espanha fez 29 viagens e acompanhou três presidentes“.
É evidente a tentativa de “repartir” a responsabilidade pelo agente pelos outros governos. Ora, mas em nenhum deles foi transportada drogas com o fim de tráfico, ao menos que se saiba e isso nem é o principal.
É evidente que não haveria maior gravidade se o militar tivesse sido preso com alguns gramas, para consumir ele próprio ou com amigos, numa festinha. Não se trata de discutir vício pessoal.
Mas, sim, de discutir como um avião da comitiva presidencial, que tem a prerrogativa de ser “território brasileiro” no exterior, pode ser abastecido com uma enorme quantidade de droga, pela falta de controle o mais elementar em aviação, inclusive, como referi aqui, pela possibilidade de embarcarem-se, por falta de controle, até mesmo explosivos que ponham em risco de vida uma comitiva presidendial.
É fora de dúvida que se tratou de tráfico e essa, além da falta de controle, além da falta de segurança no avião, é a notícia.
Que nossa imprensa evita, de toda forma, assumir.