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Por Moisés Mendes
Os grandes jornais fizeram a pauta mais óbvia do fim de semana sobre os militares citados por civis que conhecem ou participam dos rolos nas compras das vacinas.
Globo, Folha e Estadão vieram no domingo com textos sobre as suspeitas, requentando o que todo mundo sabe.
Os jornalões fizeram resenhas para dizer que os militares nomeados por Pazuello e Bolsonaro para o Ministério da Saúde são acusados de atuarem como parceiros de personagens civis da corrupção, quase todos ligados ao Centrão.
Vamos ver o que cada um deu, a partir dos títulos e do que em algumas redações chamam de linha de apoio ao que foi titulado, ou seja, o resumo do que foi escrito.
No Globo, a reportagem de Jussara Soares e Paula Ferreira foi chamada assim:
“Citação a militares em escândalos impede governo de culpar o Centrão”.
E a linha de apoio informa: Ao menos quatro militares que passaram pelo Ministério da Saúde foram envolvidos em acusações envolvendo compras de vacinas.
Na Folha, esta é a chamada para o texto (bem curto e que não diz quase nada) que Camila Matoso publicou no Painel:
“Suspeitas da pandemia enrolam fardados, e militares cobram posição do Exército”
A linha de apoio diz: Denúncias incluem suposto pedido de propina por então membro do governo Bolsonaro e irregularidades na compra da Covaxin.
No Estadão, a reportagem de Vinicius Falfré foi titulada assim:
“Centrão e militares estão no foco das suspeitas de corrupção no governo Bolsonaro”
E essa é a linha de apoio: Investigação evidencia uma aliança pragmática entre os dois setores pelo controle das verbas do Ministério da Saúde.
Os três jornalões pelo menos entraram no assunto. Mas não conseguiram avançar. Os textos são quase burocráticos e cumprem tarefa protocolar.
Os jornais trataram da corrupção que certamente envolve militares, mas só chegaram à periferia do assunto.
Falta muito. Falta avançar mais para que se aponte o que até as primas das emas do Alvorada sabem. Que Bolsonaro loteou a Saúde de militares para ter o controle absoluto do Ministério.
E que o controle das operações, que levaram a todo tipo de rolo na compra de vacinas (com participação até de um reverendo), é dos militares.
O Centrão dá suporte político, para oferecer cobertura e pegar a sua parte, como base alugada por Bolsonaro no Congresso.
Mas quem está dentro do Ministério, em postos de comando, e manda e desmanada, é o time militar de Bolsonaro.
Citar nomes dos suspeitos (general Eduardo Pazuello e dos coronéis Antonio Elcio Franco, Marcelo Blanco da Costa, Alexandra Martinelli Cerqueira, Marcelo Pires e Alex Lial Marinho) não significa nada. Todos já foram citados na CPI.
O jornalismo ainda está devendo. Os jornais terão de provar que não temem fazer reportagens investigativas no pântano dos negociantes da morte, que tem generais e coronéis como suspeitos.