O professor Agassiz Almeida Filho, que leciona direito constitucional na Universidade de Coimbra, em Portugal, foi ao X, antigo Twitter, defender a fala do presidente Lula (PT), que comparou o genocídio de palestinos na Faixa de Gaza com o Holocausto.
Nesta quarta-feira, o mestre em ciência política, de origem judaica, afirmou que “finalmente, como líder político de estatura mundial, Lula acerta na sua crítica ao genocídio contra o povo palestino. Seu objetivo era denunciar o genocídio, e conseguiu”. Veja a publicação na íntegra:
É evidente que a fala de Lula iria criar suscetibilidades na comunidade judaica. A perseguição aos judeus é milenar; remonta à invasão dos babilônios no século VI a.C. Meus antepassados, judeus sefarditas, foram expulsos de Portugal em 1496.
O Holocausto, por sua vez, foi um dos momentos mais terríveis da longa trajetória de violências perpetrada pela humanidade durante a história. Representa, entre outros aspectos, o uso da tecnologia mais avançada como instrumento para exterminar seres humanos. Aliás, fato sombrio que persegue a humanidade desde os seus primórdios.
Na academia, evitamos comparações entre fatos como a decadência de Roma e queda de Constantinopla, o surgimento do Império Macedônio e as bases do Império Carolíngio, o Holocausto e o genocídio na Palestina. Há muitos elementos distintos: época, economia, motivação das lideranças, ódio religioso, cenário internacional etc. A precisão e o rigor são (ou deveriam ser) as marcas da produção acadêmica.
Porém, exigir que um discurso político, num momento tão grave quanto o atual, seja como as discussões acadêmicas é simplesmente uma imbecilidade. A Política e a universidade possuem motivações, justificações e objetivos diferentes. A Política tem que convencer.
Além disso, é uma terrível contradição o fato de um governo de Israel, mesmo de extrema-direita, estar empenhado em dizimar um povo. Israel surgiu, basicamente, como uma alternativa aos desastres do Holocausto; como uma espécie de garantia para acolher a Diáspora Judaica.
Toda a comunidade internacional sabe também que o gabinete de Netanyahu estava prestes a cair antes da guerra. Há fortes desconfianças de que a resposta ao Hamas e o próprio genocídio palestino sejam verdadeiros artifícios para Netanyahu se manter no poder e fugir da Justiça.
Finalmente, como líder político de estatura mundial Lula acerta na sua crítica ao genocídio contra o povo palestino. Seu objetivo era denunciar o genocídio, e conseguiu. Expôs a tragédia de forma contundente, mobilizou a comunidade internacional e tirou a roupa do rei.
Sobre os estudiosos de hoje e do futuro cairá a responsabilidade de estudar como se deve caracterizar os genocídios e o modo de compará-los. Não há lugar para suscetibilidades, quando milhares de mulheres e crianças estão sendo dizimadas ao vivo e a cores.
É evidente que a fala de Lula iria criar suscetibilidades na comunidade judaica. A perseguição aos judeus é milenar; remonta à invasão dos babilônios no século VI a.C. Meus antepassados, judeus sefarditas, foram expulsos de Portugal em 1496.
O Holocausto, por sua vez, foi um dos… pic.twitter.com/1V2MCDoxnX
— Agassiz Almeida Filho (@AgassizFilho) February 21, 2024