Publicado no Tijolaço
O Supremo Tribunal Federal engavetou a investigação sobre os cheques de Fabrício Queiroz, o coletor de “rachadinhas” de Bolsonaro no mesmo dia em que um de seus Ministros, Luís Roberto Barroso, declara, candidamente, que Dilma Rousseff não cometeu crime de responsabilidade – única razão legal para a decretação de um impeachment – ou atos de corrupção, mas foi deposta por que “perdeu apoio parlamentar”.
Numa frase: Barroso diz com a maior tranquilidade que a deposição de um governante eleita foi ilegal e… e daí?
No mesmo dia, o mesmo Barroso é atacado sordidamente na sua vida privada por Jair Bolsonaro, mas não dá uma palavra, nem, claro, seus pares de Supremo, quem sabe porque acreditam que “não podem descer a este nível”.
Mas desceram ao nível de acatarem um processo conduzido por um crápula como Eduardo Cunha que era apoiado pelo efeito colateral que teria: o de reforçar a campanha de demolição e exclusão de Lula de seu inevitável retorno em 2018.
E continua fechando os olhos diante do abastecimento das contas de Michelle Bolsonaro que, em lugar de arquivo, deveria ter como destino a primeira instância, pois “primeira dama” não tem foro privilegiado.
Somos um país que já não tem um Ministério Público, colocado sob as conveniências de um Procurador Geral da República que, diante de todos, abre mão se seu papel de fiscal da lei e só não assiste mais passivamente a revelação de situações escabrosas, tudo em troca da possibilidade de ser indicado a a uma cadeira do Supremo ou, ao menos, ficar em sua cadeira por três anos.
Aí está a que se reduziram a carreira mais poderosa de servidores do Estado brasileiro, ocupados, como todos os postos de poder deste país, por um elite desavergonhada, que fecha os olhos à realidade, mesmo quando os fatos a atropelam brutalmente.
E se alguém quiser saber da quantidade de indícios e provas deste mecanismo mafioso que é a família Bolsonaro, ouça o primeiro dos vários capítulos do podcast da jornalista Juliana Dal Piva, no UOL, publicado hoje. Ainda que um tanto “novelizada”, a reportagem traz uma boa cronologia dos fatos, com dados e declarações.