O deputado francês Eric Coquerel afirma que a França não pode aceitar que a democracia seja “achincalhada” por um governo fascista e denuncia um golpe jurídico-político contra o ex-presidente Lula. Nesta breve entrevista para o DCM, realizada na Assembleia Nacional, o coordenador do partido La France Insoumise, um dos principais da esquerda no país, compara Lula a Mandela e convoca o governo francês a exigir a libertação de Lula, como fez com o líder sul-africano.
Para Coquerel, representante de Seine-Saint Denis, um dos departamentos mais pobres da França metropolitana, o que o Intercept mostrou com fatos expõe uma “cilada” da elite brasileira contra Lula, num novo mecanismo “em moda” no continente latino-americano.
Como o senhor reagiu às revelações sobre a Operação Lava Jato?
Confirma o que dizemos há meses. Faço parte e estive na criação do comitê de defesa de Lula em 2018, em Salvador. Já dizia-se que era uma cilada do Poder no Brasil, do establishment, com o apoio do juiz Moro. Desde então, Moro se tornou um “superministro’ do governo de Bolsonaro. O site só confirma com fatos concretos, escutas, que Lula foi vítima de um ataque político-judiciário.
Isso só reforça nossa exigência – é por isso que que o Colóquio (realizado na Assembleia Nacional, denunciando o governo Bolsonaro) vem numa boa hora – do governo francês é a libertação de Lula, como se exigiu a libertação de Mandela. É o mesmo tipo de caso e de importância para o mundo, para o continente sul-americano, a importância do Brasil e o tamanho do Brasil. É preciso haver eleições democráticas e parar de favorecer relações econômicas com um governo que eu estimo ser de sentido fascista.
O senhor estima que as eleições não foram democráticas?
A partir do momento em que você impede alguém de se candidatar, que segundo as pesquisas antes das eleições seria ganhador, é claro. A eleição foi fraudada. É preciso dizê-lo claramente. Por isso eu falo em golpe de estado político-jurídico. É algo que hoje está na moda. Não precisamos mais de intervenção do exército, destituem-se pessoas sob pretextos X, Y. Impedem-nos de voltar. Penso no que está acontecendo no Equador, com Correa. Recuam sobre todas as revoluções cidadãs na América Latina. Isso vale para o Brasil e outros países sul-americanos.
O senhor foi suficientemente ouvido pelo Poder na França quando denunciava toda essa conspiração?
Não suficientemente. Você pode ver que não é um assunto em primeiro plano no noticiário francês. A França tem responsabilidades. A maior fronteira terrestre da França é com o Brasil. Somos um país que tem vocação a dizer coisas. Dizer coisas é dizer que não aceitamos que a questão da democracia seja achincalhada e não aceitamos ver a instalação de um poder fascista. Isso é que está em jogo. Os Estados Unidos, Trump amplamente por trás desse caso.
Em relação a Moro e Dallagnol, que medidas deveriam ser tomadas?
Os juízes devem ir a fundo (na investigação de ambos). Em relação à corrupção, percebemos que aqueles que aqueles que fingiram ser os limpos nesse caso, ou seja, Bolsonaro e esses juízes, têm pessoas próximas que estão manifestamente envolvidas. Talvez é preciso esperar que uma justiça digna desse nome, e não manipulada por um poder político, assuma seu papel, liberte Lula e talvez acuse os que o prenderam.