No dia 18 de janeiro de 2009, o teto desabou na sede da Igreja Renascer em Cristo em São Paulo. A tragédia ocorreu por volta das 19h na avenida Lins de Vasconcelos, no Cambuci, zona sul de São Paulo. Nove pessoas morreram no local e 114 ficaram feridas. Imediatamente após o ato, a igreja publicou nota dizendo lamentar “profundamente o ocorrido” e afirmando que tudo faria “para prestar socorro às vítimas e para esclarecer o que houve e o que causou esse acidente terrível”.
Isso faz mais de 14 anos. São mais de 14 anos que o senhor Ismael Conceição Nicolau perdeu sua esposa no acidente, a fiel Maria Elisie dos Santos. São mais de 14 anos a provar a distância entre o discurso e a prática da igreja, a mesma que já expulsou um pastor de seus púlpitos por ele se recusar a defender o então candidato a presidente Jair Bolsonaro (PL-RJ). Isso porque, até agora, seu Ismael não recebeu um real da Renascer, que agora teve suas contas bloqueadas para que finalmente pague o que deve.
A longa batalha jurídica após a morte trágica da esposa
Ainda em 2009, o viúvo, que não recebeu qualquer apoio material da Igreja, foi à Justiça, exigir danos morais pela perda da companheira. No processo, a Renascer argumentou, entre outras razões, que deveria ser inocentada e não pagar um tostão, alegando que o acidente foi originado por uma reforma realizada nos anos de 1999 e 2000, sobre a qual não seria responsável.
Em novembro de 2012, quase quarro anos após a tragédia, foi publicada a sentença em primeira instância, condenando a agremiação religiosa a pagar R$ 93,3 mil a título de danos morais ao viúvo da fiel morta.
Mas a Renascer em Cristo já não estava disposta a “fazer de tudo para prestar socorro às vítias e familiares”. O que fez foi contestar a decisão em segunda instância, recusando-se a pagar o valor sentenciado ou qualquer outro.
Pouco mais de um ano depois, em 12 de dezembro de 2013, foi proferido um acórdão (decisão em segunda instância) condenando pela segunda vez a igreja a pagar a indenização devida a seu Ismael, nos exatos mesmos termos da decisão de um ano antes, como se pode ver no trecho abaixo.
Mas a Igreja renascer não se conformou. Protocolou um novo recurso (agravo) no STJ (Superior tribunal de Justiça), levando o caso a Brasília.
Mais de dois anos depois, em 19 de fevereiro de 2016, o ministro Luis Felipe Salomão, relator do processo na corte superior, proferiu com seus colegas de turno um novo acórdão, com nova rderrota da Igreja Renascer, determinando a imediata execução da sentença original, com valores já então corrigidos para mais de R$ 200 mil. Veja trecho abaixo.
Seu Ismael achou, então, que finalmente receberia algum reparo pela morte da esposa. Mas ele estava enganado. A Igreja Renascer simplesmente não pagou.
Isso fez com que o advogado do viúvo – no dia 20 de junho de 2017 – ingressasse com novo processo judicial, este de execução e cumprimento de sentença já ratificada em duas instâncias superiores, solicitando que fossem identificadas contas bancárias e outros patrimônios da Igreja, e que fossem esses devidamente bloqueados ou confiscados pela Justiça, para finalmente pagar o seu Ismael.
Começava ali uma nova batalha. No processo de execução, a Igreja já lançou mão de uma miríade de recursos para impugnar os cálculos de correção, esconder valores em contas bancárias subsidiárias e agravar decisões sobre juros e multas pelo atraso de mais de uma década.
Resultado: até hoje, 31 de maio de 2023, seu Ismael ainda não sabe do que estava falando a Renascer quando disse, lá em janeiro de 2009, que iria prestar imediato socorro às vítimas e familiares.
No dia 11 de maio de 2023, a Justiça finalmente oficiou ao Banco Central o bloqueio de cinco contas da Renascer, no Banco do Brasil, no Bradesco, no Itaú, no Santander e no Banco Luso Brasileiro (este último aquele em que a igreja recomenda aos fiéis que depositem suas doações).
O valor está em R$ 545.168,40. Seu Ismael ainda aguarda, vivo, o recebimento da indenização pela perda da mulher, morta há mais de 14 anos.