A justiça francesa liberou neste sábado um evento do grupo de extrema direita Action Française em Paris, depois que a polícia do país o havia proibido na sexta-feira por ordem do Ministério do Interior.
O grupo também foi autorizado a fazer uma homenagem neste domingo a Joana d’Arc, símbolo de libertação de estrangeiros para a extrema direita.
A decisão da justiça é uma resposta à ação do grupo Action Française, que se disse vítima de um ataque por parte do Estado à liberdade de manifestação.
A proibição valia também para diversas manifestações de extrema direita pelo país, que permaneceram proibidas. Grupos de militares e coletes amarelos participariam delas.
As proibições se deram em meio à polêmica provocada no país depois que a mesma polícia havia autorizado uma marcha neonazista na capital francesa no último dia 6.
Os neonazistas homenageavam Sébastien Deyzieu, um militante de extrema direita que morreu de uma queda nos anos 1990 ao tentar fugir da polícia.
Após a liberação da justiça, o colóquio organizado pela Ação Francesa pôde ocorrer neste sábado. A justiça do país ordenou que a associação monarquista seja indenizada em 1.500 euros pela proibição policial.
Segundo uma reportagem do jornal Le Monde, um dos motivos alegados pelo Ministério do Interior para proibir o colóquio “La France en danger” (A França em perigo, em português) foi a convocação por partidos de “esquerda radical” a manifestações de “oposição violenta” à reunião de extrema direita.
A iniciativa de oposição veio dos partidos Europa Ecologia os Verdes (esquerda), França Insubsmissa (esquerda radical), ATTAC (ONG de esquerda) e da CGT, uma das principais centrais sindicais.
De acordo com o Le Monde, o Ministério do Interior disse que os temas abordados no colóquio seriam suscetíveis de “gerar declarações de natureza a contestar os princípios consagrados pela Declaração de Direitos do Homem e a tradição republica, mas também incitar o ódio e a discriminação”.
O “perigo” ao qual o evento faz alusao é, de um lado, a imigração e , de outro, a “submissão” da França aos Estados na guerra da Ucrânia, como afirma a jornalista independente Anne-Laure Bonnel, convidada para o evento, acusada de propagar fake news na internet.
Ela ficou particularmente conhecida nesse contexto por intervir no canal de TV CNews, parte do conglomerado midiático do magnata Vincent Bolloré, alinhado com a extrema direita.
Na CNews, Anne-Laure havia afirmado que tem provas de que a Ucrânia bombardeou a região do Donbass, no leste do país, provocando 13 mil mortos.
Outra personalidade convidada para o evento foi Jean Messiha, ex-presidente do União Nacional e aliado desde o ano passado de Eric Zemmour, então candidato de extrema direita à presidência do país.
Zemmour é apontado como um dos incentivadores das manifestações de ultradireita e neonazifascistas que se proliferam nos últimos meses.