Karnal, Pondé e os sapos intelectuais. Por Nathalia Claro Moreira

Atualizado em 5 de setembro de 2022 às 23:55
Leandro Karnal e Luiz Felipe Pondé. Foto: Reprodução

Por Nathalia Claro Moreira, professora universitária, pesquisadora em Fenomenologia (UERJ) e Etno-história (UFGD)

Há uns anos o brasileiro elegeu Leandro Karnal e Luiz Felipe Pondé como referências de uma intelectualidade irrestrita. Karnal tem trabalhos em História da América, que é sua área de formação, e Pondé, em Blaise Pascal. A situação ficaria calma se eles se mantivessem em suas lagoas.

Mas a conjunção astrológica de língua ferina, terno bem passado e pele branca transformaram ambos em uma espécie de Oráculo de Delfos.

Não era raro ver Karnal conversando com Fátima Bernardes sobre… qualquer coisa. Mesma coisa Pondé. Futebol? Marketing? Conflito entre duas tribos africanas em alguma região remota subsaariana? Pix? Budismo? Jesus? O retorno do KLB? Tudo. Um belo discurso, uma frase de Shakespeare, uma curiosidade histórica, um aforismo de Nietzsche, um ar de caviar com champanhe no Coco Bambu… vinha uma resposta encantadora.

E o brasileiro acolhia. A Globo acolhia. A GNT acolhia. A impressão é que esses caras passam 24h estudando “Atualidades”, mas a verdade é que seus últimos trabalhos são aqueles atrativos ruins da seção de Auto-ajuda (e que infelizmente pipocam os 10 mais vendidos do ranking da Veja).

Esses dias Karnal argumentou que mandar áudio em WhatsApp é coisa de analfabeto.

Hoje, li um artigo sórdido do Pondé arguindo com seu jeito pobre de reflexão que “autismo é a última tendência do mercado”.

Como Édipo, os olhos sangram.

Em minha última aula de Metafísica na UERJ, um renomado professor disse rindo que a CNN havia ligado para o departamento perguntando se ele poderia falar sobre o conflito da Ucrânia com a Rússia.

Ele perguntou se poderia falar sobre a ontologia da guerra. Desligaram.

É isso. Sapos intelectuais, fiquem em seus lagos.

Publicado originalmente no Facebook da autora

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