Em um evento histórico, a Câmara dos Deputados dos Estados Unidos optou pela remoção do seu presidente, o republicano Kevin McCarthy, com a votação realizada na terça-feira (3). A iniciativa foi impulsionada parcialmente pela facção de extrema-direita de seu próprio partido. O veredito contou com 216 votos favoráveis à sua destituição e 210 contrários.
Esta decisão marca um precedente, sendo a primeira vez que a Câmara afasta seu presidente, e é o primeiro evento de tal natureza desde 1910 que foi submetido a votação. Matt Gaetz, um deputado conservador da Flórida notório por suas disputas com McCarthy, apresentou o pedido.
O bloco democrático votou unanimemente a favor da saída de McCarthy, enquanto o próprio, apesar de uma expressiva sustentação republicana, foi deposto por uma margem estreita, com apenas oito votos contrários de colegas do partido. O anúncio se deu após um prolongado e tenso silêncio.
Hakeem Jeffries, líder da minoria na Casa, vinculou a decisão democrata de apoiar a moção republicana à falta de distanciamento dos republicanos em relação ao extremismo representado pelo slogan “Make America Great Again” (Maga), associado ao ex-presidente Donald Trump. Jeffries insistiu anteriormente na necessidade dos opositores se distanciarem dos “extremistas” e colocarem um fim ao “caos”.
A campanha contra McCarthy ganhou ímpeto após ele, com apoio democrata, autorizar uma medida provisória para manter o governo operante enquanto o orçamento para o ano fiscal de 2024 não é aprovado. Embora esta ação tenha evitado uma paralisação governamental no domingo, também enfraqueceu o suporte a McCarthy entre uma facção mais radical do seu partido, que demandava cortes orçamentais mais agressivos e já nutria insatisfação com sua liderança desde um acordo anterior com a Casa Branca para aumentar o teto da dívida pública.
Será nomeado um presidente interino a partir de uma lista previamente preparada por McCarthy, como parte de um protocolo instaurado após os eventos de 11 de setembro para impedir que o cargo permaneça vago. Uma subsequente eleição para um novo presidente da Câmara será organizada, e McCarthy está habilitado a concorrer novamente.
Antecedendo a votação, republicanos como Gaetz, Bob Good (Virginia) e Andy Biggs (Arizona) debateram a favor da remoção, enquanto Tom Cole (Oklahoma), Tom Emmer (Minnesota) e Jim Jordan (Ohio) se posicionaram contra. Good e Gaetz criticaram McCarthy por alegadamente violar acordos e ceder aos democratas em votações que, segundo eles, caracterizam falta de responsabilidade fiscal.
Enquanto as deliberações ocorriam, McCarthy permaneceu silenciosamente no plenário.
A proposta para destituir McCarthy foi apresentada na segunda-feira à noite e, irônico o suficiente, o uso deste instrumento por um colega da Casa foi algo facilitado pelo próprio McCarthy em janeiro, como parte de um pacote de reformas legislativas exigido por republicanos extremistas em troca de suporte à sua liderança.
Depois de propor o pedido, Gaetz projetou dois cenários possíveis: “Kevin McCarthy não será presidente da Câmara ou ele será o presidente da Câmara, mas funcionando conforme os desejos dos democratas”. Uma troca de farpas também ocorreu entre McCarthy e Gaetz no X, ex-Twitter.
Apesar da estreita maioria republicana na Câmara, o grupo mais radical e à direita de Gaetz, com seus 20 deputados, desempenhou um papel crucial. A moção para remoção demandava apenas uma maioria simples entre os presentes e votantes, deixando o futuro de McCarthy efetivamente nas mãos dos democratas.
Contudo, os democratas, que se reuniram a portas fechadas para discutir o assunto, não estabeleceram um plano claro para resgatar McCarthy, que recentemente havia iniciado um processo de impeachment contra o presidente. A complexidade da situação e as subsequentes repercussões da remoção de McCarthy ainda estão por se desdobrar.