Essas tentativas de lacrar com vídeos ou declarações com Jesus supostamente gay ou trans, ao gosto da “militância”, são esforços que servem apenas para colocar os trabalhadores contra a esquerda.
Uma coisa somos nós que tivemos o privilégio de acessar outras linguagens e leituras e outra completamente diferente é o trabalhador periférico e semialfabetizado que integra os 14 milhões de desempregados.
Esse trabalhador ou essa trabalhadora se sentem acolhidos pelas igrejas de garagem e da teologia da prosperidade. Quando vêem uma anedota ou esquete com Jesus sendo interpretado como um homossexual ou transgênero, se escandalizam.
Então, no final, o que parece revolucionário por quebrar tabus serve apenas para afastar do diálogo a classe trabalhadora precarizada e a esquerda.
No fim, não serve para combater homofobia, não serve para aprofundar debate sobre Jesus histórico, não serve para nada além de afastar as pessoas de uma caricatura que infelizmente a direita jogou como esquerda, e parte da “esquerda” abraçou como sendo isso mesmo.
Reparem bem, a teologia da libertação, marco importante de aproximação da classe trabalhadora latino-americana com camponeses e operários, em momento algum se serviu desse expediente para fazer agitação e propaganda.
Muito pelo contrário, a partir da própria Bíblia e uma visão que integra Jesus teológico e Jesus histórico, as comunidades eclesiais de base (CEB) trouxeram Jesus e seus ensinamentos para uma escatologia cotidiana, capaz de gerar questionamentos de natureza classista, inspirar a organização dos trabalhadores em seu local de trabalho, igreja e bairro, falar de ecologia, economia e outros elementos.
Na política, assim como na vida, não se dialoga com ninguém apontando o dedo e acusando, muito menos assustando e escandalizando.
Precisamos de mais Dom Hélder e Papa Francisco e menos linguagem neutra e comediantes da Zona Sul carioca. Isto é, se nossa meta for conquistar corações e mentes para um projeto de transformação social.