Diálogos apreendidos pela Polícia Federal na operação Spoofing mostram que, em 2018, os procuradores da Lava Jato de Curitiba queriam comparar os casos de José Dirceu, ex-ministro-chefe da Casa Civil, e do ex-presidente do PT José Genoino, ao do goleiro Bruno, que foi condenado em 2013 pelo assassinato da namorada, Eliza Samúdio.
O Ministério Público Federal (MPF) havia pedido a condenação de Dirceu e Genoino por corrupção ativa, mas os procuradores temiam que o STF revogaria a prisão dos petistas.
O então chefe da força-tarefa, Deltan Dallagnol, enviou uma mensagem afirmando que o Supremo estava “preparando terreno para soltar geral”, e por isso seria necessária uma “reação”.
“Se os ministros ficarem confortáveis, logo soltarão os peixes grandes”, alertou.
Foi aí que Deltan citou a sugestão do procurador Athayde Ribeiro, dizendo que ele “trouxe a ideia de comparar com o caso Bruno: quem matou mais?”.
Athayde logo responde: “Bruno cometeu um só crime. Esses aí vários, inclusive quando estavam sendo julgados pelo próprio STF. Genu [Genoino] e Dirceu.”
Ele ainda acrescenta: “Aquela ideia de que a corrupção mata mais…”
Mesmo após questionar se “não seria afrontar demais o Supremo”, o procurador defende que era preciso “tomar um posicionamento a respeito”.
“Creio que comparar ao Bruno é fácil. O Genu e o Bunlai [o pecuarista José Carlos Bumlai] estavam esperando para serem soltos, pois as acusações são pontuais e sobre fatos antigos”, afirma Athayde.
“Se queremos manter presos, temos que fazer diversas denúncias. De qualquer modo, temos que nos manifestar, pois ao que parece o Toffoli está preparando a soltura do Dirceu”, conclui.
Em 2013, num caso que ganhou repercussão nacional, o goleiro Bruno Fernandes de Souza, que jogava no Flamengo, foi condenado a 22 anos e três meses de prisão pelo assassinato e ocultação do cadáver de sua esposa Eliza Samúdio, e também pelo sequestro e cárcere privado do filho Bruninho.
O corpo de Eliza nunca foi encontrado.
A fixação da Lava Jato por prender petistas era tão grande que os procuradores estavam dispostos a comparar um crime de lavagem de dinheiro a um assassinato a sangue frio, pressionando o STF com esta analogia absurda.
Em 26 de junho de 2018, Gilmar Mendes, Dias Toffoli e Ricardo Lewandowski determinaram a soltura de José Dirceu, após ele passar um mês preso no Complexo Penitenciário da Papuda.
Genoino foi inocentado pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) em agosto de 2020, quinze anos após o início do processo.