“A vergonhosa nota de apoio do PT ao tirano de Caracas e à fraude eleitoral contra o povo da Venezuela confirma os piores receios de que o partido de Lula oferece riscos à democracia”, escreveu Sergio Moro no X nesta terça (30).
Em 2019, o Intercept publicou uma matéria da série da Vaza Jato mostrando a ingerência na Venezuela para tentar insuflar um golpe de estado contra Maduro.
Procuradores da operação coordenaram um esforço para vazar informações confidenciais da delação da Odebrecht envolvendo a Venezuela para a oposição do país, após uma sugestão de Sergio Moro, então juiz. Em conversas via Telegram em agosto de 2017, fica evidente que o principal motivo para o vazamento era político.
“Talvez seja o caso de tornar pública a delação da Odebrecht sobre propinas na Venezuela. Isso está aqui ou na PGR?”, questionou Moro a Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa em Curitiba, no dia 5 de agosto às 14h35.
Deltan respondeu que não era possível tornar público diretamente devido a acordos, mas sugeriu o envio de informações à Venezuela, o que poderia resultar em publicação indireta. Ele já havia mencionado a Moro que, apesar de críticas e riscos, valeria a pena para apoiar os venezuelanos.
Alegando atuar como coordenador de fato da força-tarefa, uma prática ilegal, Moro influenciava frequentemente as decisões dos procuradores. A revelação dessas informações secretas ocorria num momento delicado, logo após ameaças dos EUA de sanções e ação militar contra Maduro, e antes do Brasil reconhecer o governo paralelo de Juan Guaidó.
A divulgação não autorizada poderia ser considerada crime, conforme o artigo 325 do Código Penal. Com poucos contatos em Caracas, os procuradores recorreram à ex-procuradora-geral Luísa Ortega Díaz, destituída por ser vista como ameaça a Maduro. Moro sugeriu a abertura das informações da Odebrecht no mesmo dia em que a Assembleia Constituinte venezuelana destituiu Ortega.
Após se exilar no Brasil, Ortega cooperou com a Lava Jato, sem mais ter atribuições oficiais. Durante uma reunião em Brasília, o então procurador-geral Rodrigo Janot destacou o “estupro institucional” sofrido pelo Ministério Público venezuelano.
A força-tarefa discutia as implicações de suas ações na Venezuela, reconhecendo os riscos de intensificar a crise no país. Dias após a reunião com Moro, Deltan afirmou que cabia aos venezuelanos avaliar os riscos de guerra civil.
Deltan tentou amenizar o temor dos colegas. “PG [o procurador Paulo Galvão], quanto ao risco, é algo que cabe aos cidadãos venezuelanos ponderarem. Eles têm o direito de se insurgir.”
A vergonhosa nota de apoio do PT ao tirano de Caracas e à fraude eleitoral contra o povo da Venezuela confirma os piores receios de que o partido de Lula oferece riscos à democracia. pic.twitter.com/mTHAqKpj3f
— Sergio Moro (@SF_Moro) July 30, 2024
Ortega publicou vídeos em seu site mostrando depoimentos de Euzenando Azevedo, ex-diretor da Odebrecht na Venezuela, admitindo repasses milionários tanto para Maduro quanto para o opositor Henrique Capriles, embora apenas a parte sobre Maduro tenha sido amplamente divulgada.
A divulgação veio à tona dias antes das eleições estaduais na Venezuela, impactando a percepção pública sobre a corrupção no governo Maduro. A Odebrecht acusou a Procuradoria-Geral da República de vazar os vídeos, que deveriam estar sob custódia exclusiva da PGR.
A Transparência Internacional, após discussão com Fernando Henrique Cardoso, defendeu a abertura de processos contra autoridades venezuelanas, e Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, decidiu que o caso não deveria ser tratado em Curitiba por não se relacionar com a Petrobras.