Licença não remunerada até 2015: a história real do emprego público de Rachel Sheherazade

Atualizado em 10 de novembro de 2014 às 15:28

“Jamais defenderia a violência”: Rachel Sheherazade tenta explicar seu apoio aos “vingadores” no Rio

 

Numa entrevista à coluna de Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo, a apresentadora Rachel Sheherazade contou que era funcionária pública concursada do Tribunal de Justiça da Paraíba, mas que não comparecia ao trabalho por se encontrar em São Paulo. A licença estaria próxima de vencer, e ela teria que se desligar da função pública definitivamente.

A declaração repercutiu na internet, e Rachel foi acusada de ser funcionária fantasma. Em sua defesa, publicou no Twitter nota da diretora de comunicação do Tribunal, postada depois no Facebook: Rachel não comparecia ao tribunal, é verdade, mas também não recebia salário. Estava de licença não remunerada.

“Não brinquem com fogo”, ameaçou Rachel Sheherazade, depois de “instruir” jornalistas que “ignoram ou fingem ignorar as leis para tentar difamar quem ‘tá’ quieto.” Ninguém procurou checar as informações e o caso morreu por aí.

A nota da diretora do tribunal, Marcela Xavier Sitônio Lucena, não está mais no Facebook, e Rachel não voltou ao assunto. É fato que a jornalista não recebe salário do tribunal, como atestou a diretora de comunicação — mas desde 27 de fevereiro de 2012, quando estava no SBT em São Paulo havia quase um ano.

Entre 1º de abril de 2011 e 27 de fevereiro de 2012, ela recebeu salário todos os meses, como se estivesse trabalhando, inclusive a gratificação pela função de confiança que ocupava na gerência de comunicação. Seu último salário líquido foi de aproximadamente R$ 5.700,00.

Segundo o tribunal, dentro da lei. Na época, o país que Rachel disse à revista Forbes não ser civilizado garantia benefícios extraordinários a funcionários da Justiça. A cada cinco anos de trabalho, três meses extras de férias – o que é chamado de licença prêmio.

Sob a matrícula 4705149, Rachel Sheherazade Barbosa assumiu o cargo de técnica judiciária no dia 11 de março de 1994, antes de se formar em jornalismo (em 1997). Depois de formada, foi comissionada na gerência de comunicação, onde ocupou o cargo de assistente administrativa.

Seu antigo chefe, Genésio de Souza, garante que ela cumpria horário, embora pudesse ser vista, todos os dias, por volta das 13 horas, apresentando o jornal da TV Tambaú, afiliada do SBT, onde já era conhecida por seus comentários, digamos, de tom conservador e moralista.

Em 2011, depois que um vídeo em que ela criticava o Carnaval bombou na internet, Rachel foi convidada para se transferir para o SBT em São Paulo, e assumir a bancada do mais importante jornal da rede.

Na despedida da TV Tambaú, agradeceu aos chefes na TV, aos colegas e à família, sem esquecer de mencionar sogros e sogras e os cunhados e cunhadas. “Agradeço principalmente a Deus, por ter me abençoado ricamente, e eu não sou digna de tantas dádivas”, disse, sem conter as lágrimas.

Rachel é uma crítica contundente do papel do estado na sociedade, entre outras coisas por dificultar o porte de armas ao cidadão e também por não garantir sua segurança. É um país de “valores esquizofrênicos”, escreveu ela num artigo publicado nesta terça-feira.

Se as coisas derem errado no SBT, o que hoje parece improvável, Rachel pode voltar ao emprego público. Ao contrário do que disse, a licença sem vencimentos expira só em 2015. Até lá, Rachel está segura — uma garantia do estado.