Líder do Conselho Mundial de Igrejas nega que Cuba desrespeite a liberdade religiosa

Atualizado em 21 de dezembro de 2023 às 0:22
O presidente cubano Miguel Diaz-Canel (à direita) conversa com o secretário-geral do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), Jerry Pillay, em 18 de dezembro de 2023, em Havana. - @PresidenciaCuba / X
O presidente cubano Miguel Diaz-Canel (à direita) conversa com o secretário-geral do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), Jerry Pillay, em 18 de dezembro de 2023, em Havana. – @PresidenciaCuba / X

Por Gabriel Vera Lopes

O presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, manteve uma reunião nesta segunda-feira (18) com o reverendo Jerry Pillay, secretário-geral do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), que se encontra numa visita oficial na capital cubana desde domingo.

Em resposta às acusações de Washington de que a liberdade religiosa não é respeitada em Cuba, o reverendo sul-africano afirmou durante uma coletiva de imprensa que “o governo cubano oferece espaços para que os cidadãos desfrutem de sua fé”.

A visita do Conselho Mundial de Igrejas tem o objetivo de fortalecer e aprofundar os laços com a comunidade cristã e ecumênica da ilha. Durante sua visita, a delegação do CMI se reunirá com diversos representantes de movimentos ecumênicos e líderes religiosos da ilha e fale na Universidade de Havana.

“É um prazer me encontrar novamente com o Reverendo Jerry Pillay, secretário geral do Conselho Mundial de Igrejas, a quem agradeci pelo apoio e pela sensibilidade que sempre demonstraram em relação ao nosso povo. A oposição do CMI ao bloqueio dos EUA a #Cuba é bem conhecida”, disse Miguel Díaz-Canel em sua conta no X (antigo Twitter).

Durante a conversa, o líder religioso reiterou “o apoio do Conselho Mundial de Igrejas à luta de Cuba contra o bloqueio (dos EUA)” e manifestou sua rejeição à “inclusão da ilha na lista (elaborada pelos EUA) de países que supostamente patrocinam o terrorismo”, informou a presidência cubana.

Pillay também expressou preocupação com o impacto das sanções dos EUA contra a ilha. Afirmou que elas “causam muitos danos, especialmente no lado econômico deste país”.

Esta é a primeira visita de Jerry Pillay à ilha desde que assumiu o cargo de secretário geral do Conselho Mundial de Igrejas em 17 de junho de 2022. Trata-se do 9º secretário geral na história do CMI desde sua fundação em 1948.

O repúdio do CMI ao bloqueio dos EUA contra Cuba não é novo. Em outubro de 2021, líderes do Conselho Mundial de Igrejas (CMI) enviaram uma carta a Biden instando-o a tomar a “decisão ousada” de encerrar o embargo financeiro e comercial contra Cuba.

Atualmente, o Conselho Mundial de Igrejas reúne uma irmandade de 352 igrejas de 120 países, representando cerca de 580 milhões de cristãos em todo o mundo.

Um apelo aos cristãos

Na sua chegada a Cuba no domingo, Pillay proferiu o sermão no culto do Terceiro Domingo do Advento na Primeira Igreja Presbiteriana Reformada de Havana, igreja onde o Conselho Cubano de Igrejas (CIC) foi fundado. Atualmente, o CIC reúne quase 30 denominações cristãs da ilha.

Durante o sermão, o reverendo destacou os “laços históricos” que unem o Conselho Mundial de Igrejas com a comunidade religiosa da ilha. Ele também observou que a fé nas igrejas Católica Romana e Protestante está crescendo no país caribenho.

“Precisamos de igrejas que exemplifiquem a natureza servidora de Jesus ao proclamarmos a salvação, a justiça e a paz ao mundo, pois juntos somos mais fortes e melhores”, disse o reverendo Pillay em sua mensagem para a congregação.

Ademais, durante sua mensagem, o reverendo expressou que o mundo está em uma verdadeira crise expressada em um contexto de guerras, conflitos, violência étnica, de gênero e racial, em uma crise climática, de fome e pobreza. Ele pediu que as igrejas e os cristãos combatam esses males no mundo com unidade e força, tornando-se “agentes e instrumentos de esperança, paz, renovação e transformação”.

Liberdade religiosa

A visita oficial a Cuba do Reverendo Jerry Pillay e do Conselho Mundial de Igrejas (CMI) acontece um ano depois que o Departamento de Estado dos EUA incluiu o país caribenho em sua lista anual de países que “violam a liberdade religiosa”.

Jerry Pillay disse que, durante suas reuniões com líderes religiosos na ilha, “não recebemos diretamente nenhuma denúncia”, segundo informou a agência de notícias americana AP.

A decisão de Washington de incluir Cuba na lista foi tomada com base em um documento elaborado pela organização não governamental espanhola Prisoners Defenders.

Em seu site, a ONG se apresenta oficialmente como uma organização “que trabalha legalmente para proteger e promover os direitos humanos em países governados por tiranias” que “abrange Cuba e vários países da Ásia”. A organização é presidida pelo empresário cubano-espanhol Javier Larrondo, que em sua apresentação afirma ter “vasta experiência na implementação de projetos pró-democracia em Cuba, tanto filantrópicos quanto com financiamento não reembolsável”.

O relatório utilizado por Washington se baseou em apenas 56 entrevistas e depoimentos, dos quais 21 pessoas declararam ter sofrido algum ato de perseguição por parte do governo.

Atualmente, há mais de 1.850 organizações e instituições religiosas na ilha que são reconhecidas pelo Ministério da Justiça. Estima-se que o número de membros dessas instituições seja de pelo menos 1,5 milhão de pessoas, em um mosaico de diferentes religiões e crenças. Somente a Igreja Católica tem mais de 600 igrejas em funcionamento.

Há também uma extensa rede de organizações religiosas no país, como o Conselho de Igrejas de Cuba, e centros de estudo, como o Instituto Ecumênico Superior de Ciências Religiosas e o Seminário Evangélico. Por outro lado, a Carta Magna do país declara expressamente que “o Estado reconhece, respeita e garante a liberdade religiosa” e que “as diferentes crenças gozam de igual consideração”.

Publicado originalmente em Brasil de Fato

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