O Google anunciou que, a partir de maio deste ano, proibirá o impulsionamento de propagandas políticas em suas plataformas, incluindo o YouTube. Essa decisão atende às exigências do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), visando restringir o uso de inteligência artificial (IA) nos anúncios eleitorais e combater a disseminação de fake news. No entanto, especialistas divergem sobre os efeitos dessa medida, que pode significar a perda de uma ferramenta crucial para candidatos divulgarem suas campanhas, criando um monopólio das redes sociais.
A nova política do Google abrange qualquer anúncio relacionado a eleições, partidos políticos, propostas de governo, entre outros temas políticos. A empresa afirmou que essa mudança visa apoiar a integridade das eleições e que continuará dialogando com as autoridades sobre o assunto.
Marcelo Crespo, coordenador de Direito da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), vê essa mudança como um teste para o controle dos anúncios publicitários nas eleições futuras. Em entrevista ao Estadão, ele destacou o possível impacto positivo na redução de desinformação, mas apontou a limitação para candidatos alcançarem eleitores como um aspecto negativo.
“É uma plataforma que tem um poder muito grande sobre a sociedade, e precisa ter uma noção de responsabilidade para que a democracia seja respeitada. Talvez o impacto seja positivo na perspectiva de que a gente tenha menos fake news. O impacto negativo talvez seja que, se um candidato quiser veicular seu conteúdo por ali, ele não vai conseguir”, disse Crespo.
Para o coordenador da ESPM, a proibição no Google pode levar os candidatos a concentrarem seus esforços de impulsionamento nas redes sociais, como Facebook, Twitter e Instagram. Já Maria Carolina Lopes, especialista em Democracia e Comunicação Digital, acredita que essa decisão pode dar à Meta (Facebook e Instagram) um monopólio nos anúncios políticos, o que poderia afetar a diversidade e a qualidade das campanhas.
Ela ressaltou que o Google permitia a criação de anúncios mais elaborados, enquanto a Meta pode não oferecer a mesma qualidade. Com a concentração de mercado, a democracia pode perder, de acordo com Maria Carolina. A medida, portanto, levanta questões sobre a distribuição equitativa de recursos de campanha e o impacto na transparência e diversidade do debate político nas eleições de 2024.
“A Meta não vai mais precisar dividir essa fatia com o Google. Pensando como empresa, é um ganho. Por outro lado, se o custo moral e político ficar muito alto, ela pode ir na mesma direção. Assim, zeraríamos o jogo das campanhas impulsionadas na internet”, explicou a especialista.