“Lira e Pacheco enfraquecem as instituições”, diz Reinaldo Azevedo

Atualizado em 6 de fevereiro de 2024 às 11:57
Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e Arthur Lira (PP-AL). Foto: reprodução

Em artigo publicado no UOL, o jornalista Reinaldo Azevedo disse que Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, e Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Senado, “enfraquecem as instituições” e vão “semeando a desordem em nome da ordem”.

Confira alguns trechos:

Lula está, entendo, sinceramente empenhado em reconstruir um Presidencialismo democrático, como já chegou a haver no país — hoje, o regime se encontra sob intenso ataque. Jair Bolsonaro segue sonhando com uma tirania que some primitivismos dos mais variados matizes. E os grão-vizires do Congresso se revelam encantados com a ideia de uma ditadura da treva parlamentar. Resta saber a quem se conferiria o papel do Viktor Orbán macunaímico.

O ato que marco a volta dos congressistas ao trabalho mostrou-se um show de horrores. Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, ameaçou botar fogo no circo. Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Senado, segue empenhado em botar fogo no Supremo. Quer realizar o que os golpistas de 8 de janeiro de 2023 não conseguiram. Nunca tantas irresponsabilidades se estreitaram com tanta determinação num abraço insano.

Lira riscou ontem o chão com a faca. À mensagem de entendimento enviada por Lula na reabertura dos trabalhos do Legislativo, respondeu com uma declaração de guerra contra o governo e com ameaças nada implícitas. Vocês não precisam acreditar em mim, mas nas palavras do próprio:

“Errará grosseiramente qualquer um que aposte em uma suposta inércia desta Câmara dos Deputados neste ano de 2024 em razão sejam por causa (sic) das eleições municipais que se avizinham, seja ainda em razão de especulações sobre eleições para a próxima Mesa Diretora, a ocorrerem apenas no próximo ano. Errará ainda mais quem apostar na omissão desta casa que tanto serve e serviu ao Brasil em razão de uma suposta disputa política entre a Câmara dos Deputados e o Poder Executivo. Para esses que não acompanharam nosso ritmo, nosso ritmo de entregas e realizações, deixo aqui humildemente um importante recado: ‘Não subestimem esta Mesa Diretora; não subestimem os membros do Parlamento e dessa Legislatura'”.

Ao mesmo tempo em que classifica de “suposta” a “disputa” entre a Câmara e o Executivo, ele anuncia a sua disposição para o ataque. E, como se nota, ainda se refere à sucessão na Casa, como a dizer: “Não ousem interferir; o cargo é meu, e eu faço o meu sucessor, segundo as minhas regras.”

A palavra “suposta” parece acenar ainda com um outro significado: “Não há disputa nenhuma. Mando eu. Esta não é uma relação entre iguais”. (…)

Já que Lira faz uma óbvia declaração de guerra, ele deveria preencher seu discurso de homem honrado com exemplos das promessas que foram feitas e que não se cumpriram. (…)

Lira e Pacheco cacifam aliados para sucedê-los nas presidências da Câmara e do Senado
Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e Arthur Lira (PP-AL). Foto: reprodução

Ah, o tom elevado dos heróis! Em todas as democracias do mundo, o Legislativo aprova a peça orçamentária. Mas só no Brasil os congressistas usurpam a competência do Poder Executivo na destinação dos recursos. Mesmo os regimes parlamentaristas diferenciam o exercício do mandato do ato de governar. (…)

AGORA PACHECO

Pacheco, presidente do Senado, por sua vez, deu sequência a seus afagos na extrema-direita e fez mira no STF: “Discutiremos temas muito relevantes, como decisões judiciais monocráticas, mandatos de ministros do Supremo Tribunal Federal e reestruturação de carreiras jurídicas, considerando as especificidades e a dedicação exclusiva inerentes ao Poder Judiciário”.

Não fiou por aí: “Mais do que nunca, se faz necessário o fortalecimento da autonomia parlamentar. Proteger os mandatos parlamentares é proteger as liberdades. Liberdade de consciência, liberdade religiosa, liberdade de imprensa. Proteger a tão necessária liberdade de expressão, que não se confunde com liberdade de agressão”.

É na parte em que liberdade de expressão não se confunde com “liberdade de agressão” que está o problema. O que terá querido dizer com “proteger os mandatos”? Quem, de fato, os ameaça? Faz alguma referência velada aos mandados de busca e apreensão, acenando de novo aos extremistas? Mais: exceção feita aos ataques de que, com alguma frequência, são vítimas os adeptos de cultos de matriz africana, a que ameaça à liberdade religiosa ele se refere? (…)

Cada um em seu canteiro e ainda que com alvos distintos, Lira e Pacheco enfraquecem as instituições e vão semeando a desordem em nome da ordem.

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