Enquanto houver um microfone aberto e um repórter sonolento, a demência do cantor continuará sendo reverberada.
Lobão esteve na Flip, a Feira Literária de Paraty, no Rio de Janeiro, para promover seu Manifesto do Nada na Terra do Nunca. Participou de um debate e, claro, deu algumas entrevistas. Lobão se beneficia do fato de que seus entrevistadores, por preguiça ou falta de informação, deixam que ele diga barbaridades sem ser minimamente questionado.
(Em que momento Lobão passou a ser ouvido com reverência e por quê?)
Falando ao G1 num restaurante, ele reclama da visita que alguns artistas, como Caetano Veloso e Roberto Carlos, fizeram a Dilma para discutir uma reestruturação do Ecad, o órgão responsável pela arrecadação de direitos autorais. Segundo Lobão, serão criados 200 cargos comissionados no governo, o que é um absurdo.
Mas o melhor é saber, finalmente, qual a natureza e o resultado das manifestações que há um mês sacodem o Brasil. Sociólogos brasileiros e estrangeiros têm dúvidas e questionamentos, analistas quebram a cabeça para entender o que está acontecendo — mas Lobão tem a resposta.
Em primeiro lugar, ele acha que seu livro, sabe-se lá por que razão, foi “premonitório” (embora não haja uma mísera linha naquela barafunda que tenha algo a ver com os protestos).
E então vem uma teoria conspiratória delinquente sobre o que acontecerá daqui por diante. “Tô achando isso tudo muito perigoso. Se tornou uma coisa muito maior e meio que acéfala, para migrar para uma coisa muito segmentada. Não tem foco em nada”.
Segue-se um arroto básico discreto e o insight:
“O que eu tenho medo é de que seja uma guinada mais à esquerda, ou seja, uma venezualização pro Brasil se tornar uma grande republiqueta neoditatorial bolivariana”.
Neste momento, um jornalista poderia perguntar de onde ele tirou essa conclusão. Como iremos do ponto A ao ponto B de Bolívar. Mas não.
“O excesso de foco enfraquece o foco. Qual o núcleo real? Isso só favorece a extrema esquerda, que é mais organizada. A maior organização desses segmentos vai levar nossa sociedade a se submeter a diretrizes mais socializantes, mais bolivarianas. Você vê a Argentina, Venezuela, Cuba, Honduras… Se os estudantes estão reivindicando, coisa boa não vai pintar. Tudo tende a piorar.”
Essa cantilena dura mais tempo do que uma pessoa relativamente sã suportaria, mas é disso que Lobão vive. Enquanto ele contar com um microfone aberto e um entrevistador sonolento do outro lado da mesa, sua demência e falta de estudo continuarão ressoando.