Dezenove pessoas (contei) prestavam atenção. Uma cartolina afixada na frente do caminhão de som informava que Olavo de Carvalho teria razão a partir das 13:00. Já eram 15:30 e me parecia que a racionalidade estava em outra galáxia.
Lobão fazia selfies. Uma ‘militar’ de uniforme camuflado e identificação Gracinha Felix marchava com ar obstinado. Um quinteto asmático ou afônico, não sei, batucava panelas. Cães de raça, caros, delicados e escovados, trajavam verde e amarelo.
Em algumas camisetas havia a estampa de uma mão espalmada sobre a inscrição ‘Basta’. Falta o dedo mindinho. É um basta Lula. A mão é preta. É um basta negros? Pode ser. Quase não se vê negros. A proporção reflete à perfeição a parcela da sociedade que está reunida ali.
Qual parcela?
Aquela que não quer ver a Paulista fechada para carros aos domingos mas se for para eles, tudo bem.
Aquela que não gosta de nenhum protesto que bloqueie o trânsito desde que não seja o protesto deles.
Aquela que tanto criticou o Passe Livre mas que hoje queria a catraca do metrô liberada. Aliás no metrô ela é facilmente identificável: Por mais perto que esteja da Paulista pergunta qual a direção a tomar, qual a estação a descer, não aguarda que as pessoas saiam do vagão antes de entrar, e (simbologia máxima) não respeita a esquerda livre na escada rolante.
Aquela parcela que berra ‘Chega de corrupção’ enquanto empunha bonecos pixulecos infláveis mas ali na avenida fomenta o comércio de produtos irregulares. Camisetas “Fora Dilma’, bandeiras, bugigangas. Perguntei ao vendedor: “Como está o movimento?” “Mais fraco que nas outras vezes” “Quem fornece essas camisetas para você, de quem você compra?”, ele desconfiado desconversa: “Ah, a gente compra aí, não sei quem faz não.” “Você tem nota fiscal se alguém te pedir?” “Ninguém pede.”
Chega de corrupção, não é mesmo? Incetivaram um comércio ilegal praticado por camelôs que se fosse em frente ao ponto comercial deles sabemos como reagem.
Que tipo de gente democrática é essa que acredita que pode tudo? Que só é permitido quando é a vez deles? Que só vale o que for para eles?
Foi a menor manifestação pró-impeachment do ano. Mas o que era de se esperar? Segundo eles mesmos, mais nada. Foram ‘pegos de surpresa’ (?!?!?!) então foi preciso organizar muito em cima da hora.
Havia um volume de pessoas semelhante àquele que normalmente frequenta a avenida Paulista aos domingos como espaço de lazer. Em volume apenas pois as pessoas eram outras. Os frequentadores costumeiros, um público notadamente contrário ao arrazoado de Olavo, abdicou de ir para a avenida.
Todo caminhão de som procurava justificar a pouca presença de público: muito calor, ameaça de chuva, indiferença da imprensa, que deveria-se levar em conta que tratava-se só de um ‘esquenta’, uma preparação (isso é genial, como se manifestação fosse algum evento olímpico que necessita de ensaio).
Segundo os organizadores foi a última manifestação de 2015, até porque ninguém é de ferro, eles fizeram 4 manifestações este ano, devem estar exaustos e as férias estão logo aí.
Tudo o que puderam objetivar foi que a derradeira será no dia 13 de março de 2016 e profetizam para dois dias depois (15) a queda de Dilma.
Nada mais a declarar.