“‘Carrefour assassino’: em todo o Brasil manifestações depois da morte de um homem negro, morto por seguranças”, diz reportagem de hoje no jornal francês Le Monde.
“A empresa francesa está em uma tormenta desde esse drama, ocorrido na véspera do simbólico Dia da Consciência Negra”, relata o correspondente Bruno Meyerfeld.
“É um logotipo conhecido no mundo inteiro. Duas flechas, uma azul e uma vermelha, desenhando um C: o do gigante da distribuição Carrefour. Mas no Brasil, nestes últimos dias, nos cartazes de manifestantes e publicações na internet, a última flecha se transformou em poça de sangue”, observa.
“A mobilização não cessa: no asfalto da Paulista, a ‘Quinta Avenida de São Paulo’, foi pintado em letras gigantes o slogan ‘Vidas negras importam’. Em Porto Alegre, um pedido foi formalizado à prefeitura por associações locais reivindicando o fechamento definitivo do Carrefour no bairro Passo d’Areia, onde aconteceu o drama. Mais preocupante para o grupo: na internet, uma petição por um boicote ao Carrefour já recolheu mais de 16 mil assinaturas”.
“O assassinato de João Alberto seria ‘mais selvagem’ ainda do que o de George Floyd nos Estados Unidos”, afirma.
“A cada dia, a imprensa descobre novos ‘escândaos Carrefour’, revelando um quadro sombrio do grupo no Brasil: atos de racismo quotidianos, espancamento de pessoas negras, casos de tortura e estupro supostamente cometidos por seguranças, comparados a verdadeiras ‘milícias’ a serviço dos brancos”.
A reportagem também observa a crítica quase unânime da classe política e jurídica, assim como o silêncio do presidente.
“Em plena campanha municipal, quando o segundo turno é previsto para 29 de novembro, o grupo francês enfrenta a ira da quase-totalidade da classe política, com a exceção de Jair Bolsonaro, silencioso sobre o assunto. Guilherme Boulos, candidato da esquerda à prefeitura de São Paulo qualificou o drama de ‘racismo puro’. O ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes evoca um ‘homicídio bárbaro’. Para José Vicente, icone do movimento afrobrasileiro, o assassinato de Joao Alberto seria ‘mais selvagem’ ainda do que o de George Floyd nos Estados Unidos”.
O jornal observa o prejuízo econômico à rede de supermercados e a continuidade das manifestações.
“Na segunda-feira, as ações do grupo caíram de 5,35% na bolsa de São Paulo. Até agora, nem as desculpas do Carrefour, nem a criação de um fundo de 25 milhões de reais para lutar ‘contra o racismo no Brasil’, nem a ruptura do contrato com a empresa de segurança Vector, para a qual trabalhavam os dois seguranças do acusados pelo assassinato em Porto Alegre, não foram suficientes para acalmar o incêndio”.
Ainda na França, o Le Figaro noticia nesta quarta-feira que “uma gerente do Carrefour no Brasil foi presa”.
O periódico observa que “a mulher, que foi vista filmando a cena, teria mentido aos investigadores no seu primeiro interrogatorio, garantindo não ter ouvido a vítima pedir ajuda e fingindo que um dos seguranças era um policial cliente do supermercado, para ocultar o fato de que ele era um empregado do Carrefour”.
Europa
A repercussão das manifestações contra o racismo no Carrefour vai além das fronteiras francesas.
“Racismo: Os protestos no Brasil querem tirar o racismo da prateleira (desta vez, do Carrefour)”, diz o jornal português Público.
Na Espanha, o jornal de Barcelona La Vanguardia fala numa onda de protestos: “Um brutal assassinato semelhante ao de George Floyd desata uma onda de protestos no Brasil”.
No Reino Unido, o mesmo destaque: “Morte de homem negro abatido por agentes de segurança do Carrefour gera manifestações”.
O jornal britânico compara os atos às manifestações do movimento Black Lives Matter nos Estados Unidos. “O enterro de um homem negro que foi abatido por seguranças de supermercado desencadeou protestos no Brasil que reverberam o movimento por justiça racial nos Estados Unidos”.