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Por que o megaempresário Luciano Hang, o Véio da Havan, costuma dar entrevista vestindo calça jeans e camiseta verde amarela com o logotipo da loja?
Ele explica que se veste assim porque é um homem “simples”, “do povo” – na prática, ele esconde seu lado ostentação. Acha que não pega bem ter lojas de varejo com bugigangas baratas e ao mesmo tempo exibir seu outro lado.
Hang é dono de um número incalculável de apartamentos de luxo em Camboriú.
Desde 2013 ele entrou na construção civil, mas apenas no segmento de luxo. É para os super ricos, que podem pagar até 26 milhões de reais à vista por um de seus apês.
Seus negócios imobiliários são pouco conhecidos – ele pouco cita seu lado de construtor quando aparece como líder empresarial pró Bolsonaro.
Deu uma entrevista para a Bloomberg, não citou seus prédios. E falou o seguinte para o jornal Diário Catarinense sobre seus lucros de 2019: “Todo o nosso lucro é reinvestido na empresa e, quando não dá, a gente pega mais dinheiro para investir”.
Na semana em que organizou a carreata de Camboriú que comemorou a reabertura da economia de SC (depois cancelada), Hang ficou nas sombras.
Quando ele disse, no início da crise do coronavírus, que poderia demitir seus 22 mil empregados e ir à praia curtir a vida, com certeza estava contando com seu imenso estoque de imóveis de luxo em Camboriu – desde os tempos da economia forte dos governos Lula e Dilma ele vem aplicando dinheiro para a parte da sociedade que não usa financiamento, os brasileiros super ricos que pagam à vista.
No final de fevereiro Hang participou de inaugurações de prédios. Não há fotos dele na cerimônia de inauguração da Epic Tower – alguns dos imóveis estiveram por muito tempo entre os mais altos do mundo, acima das pérolas de Dubai.
A Epic Tower, em sociedade com a empreiteira FG, é um deles.
É impossível saber a extensão dos negócios de Hang porque nos sites especializados de consulta ele apresenta 268 CNPJs, sendo um cadastro para cada empresa.
E agora vamos ao luxo obsceno que Hang está oferecendo aos brasileiros, na faixa de cima, enquanto também oferece bibelôs e bugigangas importadas da China para a turma de baixo.
A Epic oferece mordomias que a turma vítima da reforma da previdência não tem nem ideia do que é – no melhor pedaço da praia mais famosa do Sul.
São 55 andares, um apê por andar, com preços que variam de 9 a 26 milhões..
Em 2013, conta um executivo que participou da entrada de Hang nos negócios da FG, a empreiteira estava em dificuldades. O Véio botou na época 70 milhões. Depois veio aumentando sua participação na obra de 55 andares.
A festa de inauguração não teve sambão – três músicos americanizados deram o tom, num vídeo clipe, cantando no alto do prédio, com o mar a seus pés.
Este lado ostentação de Hang raramente é exibido. Ele precisa manter a imagem do homem das compras baratas à família brasileira.
Os prédios nos quais ele tem sociedade tem piscina em todos os apartamentos, imaginem a conta d’água.
Há um cineminha pra cada apê. As piscinas são de borda infinita, aquela que dá a sensação de que a pessoa vai cair pro outro lado.
São de 4 ou 5 suítes, à escolha do freguês. O mais baratinho fica nos andares de baixo. Garagem no prédio, para cinco carros. Quatro dos 55 andares são com amenidades tipo quadras poliesportivas, espaços gourmet, jardins e outros frufrus.
O bom é a vizinhança festeira: Neymar comprou uma cobertura num prédio ao lado, Luan Santana pegou um andar para desfrutar Camboriú.
Luciano Hang é sócio da FG noutro empreendimento que ainda não saiu do papel, um prédio que terá 100 andares, para desbancar todos da região e muitos do mundo.
Assim, caso ele tenha que fechar a Havan por causa do coronavírus, como chegou a anunciar no primeiro momento, poderá viver dos negócios imobiliários.