Em entrevista concedida ao DCM TV, o advogado Luiz Eduardo Greenhalg disse que Lula, enquanto preso pela decisão de Sergio Moro, pediu a ele que analisasse seus processos do ponto de vista político. Encarcerado na Polícia Federal curitibana, o ex-presidente dizia que ele era um preso político e que somente a política o daria a liberdade.
O sociólogo Rudá Ricci, em várias de suas participações no mesmo DCM TV, disse que, à despeito dos esforços empreendidos pela equipe jurídica do ex-presidente, a prisão do idealizador do Partido dos Trabalhadores era política e apenas ela poderia tirá-lo de lá.
Ou seja, quando o mundo político quer, ou precisa, o mundo júridico encontra uma solução para adequar-se: foi assim com o golpe de 2016, quando o establishment queria depor Dilma Rousseff e foi assim com os processos de Lula, quando Fachin acatou o cancelamento dos feitos em razão da incompetência territorial da 13ª Vara Federal de Curitiba (argumento que já havia sido levantado pela defesa desde suas primeiras manifestações, diga-se).
Naquela altura, em março de 2021, Jair Bolsonaro já havia se mostrado catastrófico na gestão da pandemia, o instinto de proteção de seu clã já estava evidenciado à despeito das instituições e sua equipe já havia se mostrado como ela realmente é, com a exibição do vídeo da reunião ministerial na qual Ricardo Salles fala sobre “passar a boiada”, Paulo Guedes disse que teríamos que “aguentar “ a China e Weintraub pedia a prisão dos ministros do STF.
Naquele mesmo mês, a pesquisa XP mostrava que só havia um nome com força suficiente para enfrentar eleitoralmente Jair Bolsonaro. Uma dica sobre qual é: um ano antes, a jornalista Vera Magalhães, uma das tantas porta-vozes do neoliberalismo na mídia, havia dito que esse personagem era um “espantalho político” e que emulá-lo “é tudo que Bolsonaro quer para cortina de fumaça dos seus erros”.
https://twitter.com/veramagalhaes/status/1245875008854986754
Visto com os olhos de hoje, isso parece ter acontecido há muitos anos, mas estamos falando de um período inferior a 3 anos. Estava claro para quem quisesse ver que apenas Lula seria capaz de impedir Jair Bolsonaro de obter um segundo mandato que teria potencial para ser letal à democracia e às instituições.
Setores do mundo político cientes da importância vital da democracia viram e movimentaram-se para tentar salvá-la.
Nessa hora pode-se apelar às mais diversas metáforas para explicar o que aconteceu. Lula, afeito a comparações futebolísticas, poderia resgatar esse histórico e compará-lo com uma saborosa vitória de virada contra um adversário beneficiado pela arbitragem, mas considerando o caráter épico do momento que o país vive, uma citação bíblica traduz melhor: invocando as Sagradas Escrituras da fé cristã, chega-se a Mateus 21, versículo 42: “A pedra que os pedreiros rejeitaram tornou-se agora a pedra angular.”