Publicado originalmente no site da Rede Brasil Atual (RBA)
Em discurso no Circo Voador, no Rio de Janeiro, na noite desta quarta-feira (18) em agradecimento aos artistas do país pelo apoio que deles recebeu enquanto esteve preso, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou sobre a destruição da cultura, do conhecimento e da ciência pelo atual governo. “A luta de vocês foi e será sempre pela liberdade”, disse. “Fui testemunha da resistência de vocês contra a ditadura e ao famigerado AI-5, que o atual governo volta e meia fala em ressuscitar.”
O evento foi também uma celebração pela liberdade do ex-presidente. Lula destacou em especial a cantora Beth Carvalho, que morreu em abril. “Não poderia fechar o ano sem vir ao RJ agradecer aos artistas cariocas representando todos os artistas brasileiros”, afirmou Lula.
“A negação da democracia nos levou a ter um presidente como Bolsonaro”, observou. Segundo ele, apenas em momentos “em que a mentira tem prevalência sobre a verdade” é possível a ascensão de “um presidente grotesco” como o atual.
O ex-presidente afirmou, dirigindo-se aos artistas: “Vocês estão pagando caro pela extinção do Ministério da Cultura, que vamos recriar”. Atacou também a volta da censura, “esse monstro que julgávamos extinto no nosso país”. “Podemos dizer que 12 meses depois da posse se pode dizer que esse governo quer colocar em prática um projeto de destruição da cultura.” Ele acrescentou: “Cultura é libertação, e o governo Bolsonaro é contra todas as formas de liberdade”.
Além de Beth Carvalho, ele mencionou diversos artistas que, de uma forma ou de outra, foram atacados pelo atual presidente da República, como Fernanda Montenegro e Chico Buarque. “Olhando 30 segundos para uma câmara, ela (Fernanda) fez muito mais pelo Brasil do que Bolsonaro em 30 anos (no Congresso Nacional).”
Já sobre Chico Buarque, Bolsonaro “cobriu o Brasil de vergonha”, disse Lula, em referência ao fato de que o presidente brasileiro não assinou o diploma do compositor do Prêmio Camões, um dos mais importantes da literatura de língua portuguesa, que é organizado pelos governos de Portugal e do Brasil. O ato, ou não ato de Bolsonaro, causou surpresa ao presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa. Ao saber do fato, o próprio Chico Buarque comentou: “A não assinatura do Bolsonaro no diploma é para mim um segundo prêmio Camões”.
“Como na Alemanha nazista, querem destruir o Brasil começando pela cultura. Vamos resistir, como já resistimos”, prometeu Lula. “A democracia tem uma dívida impagável com os artistas desse país.” Seu governo e o de Dilma Rousseff nunca pediram “atestado ideológico a nenhum artista”, acrescentou.
Lula também citou Paulo Freire, xingado por Bolsonaro de “energúmeno”. Segundo o ex-presidente, o educador é considerado “revolucionário no mundo inteiro”. “A compreensão que tenho de ele ter chamado Paulo Freire de energúmeno é que ele não sabe o que é energúmeno.”
Com o Circo Voador lotado, algumas expressivas lideranças políticas também se pronunciaram no evento. Confira algumas delas:
Fernando Haddad
Para o ex-prefeito paulistano, o evento teve o mérito de “celebrar a liberdade e especificamente a liberdade de Lula, (e também) a cultura e a arte atacadas gratuitamente por este governo”.
Ele também mencionou a ofensa de Bolsonaro a Paulo Freire. “Vindo dele, pode ser considerado um elogio, porque é a pessoa mais tosca que existe. Jamais leu uma linha, quanto mais um livro de Paulo Freire, se é que leu algum livro na vida. Não posso repercutir uma insanidade dessa porque é o que ele quer.”
O ex-candidato à presidência da República pelo PT em 2018 foi ovacionado ao dizer: “E se nasceu aqui o bolsonarismo, tem que começar a morrer aqui, no Rio de Janeiro”. “E é aqui que ele vai começar a morrer. Vai começar a morrer pro Brasil ter paz, desenvolvimento e justiça social.”
Dilma Rousseff
“Lula esperança aponta para o futuro”, comentou, sobre uma faixa estendida no local. “A nossa cultura é a alma do povo brasileiro. A diversidade, a força que construiu esse pais é que temos que resgatar. Quando atacam a cultura, estão ferindo o país.”
Segundo ela, o ato no Rio simbolizou “a unidade de todos aqueles que têm compromisso com a democracia, com a não privatização da Petrobras, da Eletrobrás, dos Correios, da água”.
Marcelo Freixo (Psol-RJ)
“Não vamos perder o Brasil para esta barbárie e esta violência”, disse o deputado. Ele defendeu a unidade das esquerdas no país e o PT. “Temos o compromisso de unificar todo o campo progressista. Defender o PT dos ataques é defender a democracia. Qualquer diferença entre nós é muito menor do que o que temos em comum.”
Jandira Feghali (PCdoB)
A parlamentar disse que estava com saudade de estar em um ato público no Rio de Janeiro com Lula. Saudou os artistas que que arriscaram carreiras, empregos e projetos para defender a liberdade do ex-presidente. “A luta por lula livre não é apenas do PT, é uma lula pela democracia”, afirmou. “Lula era muito grande para ficar naquele lugar (a cela da Polícia Federal).” Para Jandira, “a arte combina com liberdade”.
Celso Amorim
O ex-chanceler do governo Lula e ministro da Defesa de Dilma afirmou que falaria apenas para dar um “testemunho de como o mundo vê o presidente Lula”. “Viu como preso politico, e agora volta a ver como um grande líder mundial.” Segundo ele, “o Brasil é o único país do mundo onde uma prisão (onde estava Lula) foi mais visitada do que o presidente da República”.