O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou propostas de seu próprio governo para limitar o crescimento real de gastos com saúde e educação, reafirmando que não fará ajuste fiscal “em cima dos pobres”. Em entrevista na Itália, onde participou da reunião de cúpula do G7, o político também defendeu o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que tem enfrentado críticas nos últimos dias, e criticou a taxa de juros e a atuação do Banco Central.
Conforme reportado pela Folha, o Ministério da Fazenda está considerando alterar as regras orçamentárias para saúde e educação para alinhar o crescimento dessas despesas com o arcabouço fiscal, que limita o aumento dos gastos federais a até 2,5% ao ano. Haddad afirmou que essa é apenas uma das várias opções em discussão, enquanto a ministra do Planejamento, Simone Tebet, declarou que a revisão dos pisos não é uma prioridade para a equipe econômica.
Lula enfatizou que quem critica o déficit fiscal e os gastos do governo também apoia a desoneração da folha de pagamento de empresas e municípios, beneficiando 17 setores empresariais. Ele argumentou que esses grupos empresariais não cumpriram a promessa de compensar a perda de arrecadação resultante da desoneração, que foi criada em 2011 e prorrogada várias vezes.
A desoneração da folha, que inclui setores como comunicação, calçados, call center, e construção civil, está causando uma perda de R$ 15,8 bilhões na arrecadação deste ano, segundo cálculos do Ministério da Fazenda, embora as empresas contestem esse número. O governo esperava eliminar essa desoneração para reduzir o déficit, mas a proposta foi barrada pelo Congresso. Como alternativa, uma medida provisória para restringir o uso de créditos tributários por empresas também foi rejeitada pelo Congresso.
Lula afirmou que a responsabilidade agora recai sobre os empresários para discutir e apresentar uma proposta de compensação ao ministro da Fazenda. Ele negou que Haddad esteja enfraquecido politicamente na condução econômica do governo, reforçando que Haddad foi escolhido e será mantido por ele enquanto for presidente.
O presidente também criticou a imprensa por destacar o déficit fiscal enquanto ignora a alta taxa de juros de 10,25% em um país com inflação de 4%. Ele mencionou uma celebração em São Paulo com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, sugerindo que os participantes estão se beneficiando das altas taxas de juros.
Na última segunda-feira, Campos Neto foi homenageado pela Assembleia Legislativa de São Paulo e em um jantar oferecido pelo governador Tarcísio de Freitas, adversário político de Lula.