Lula deu uma surra no Panelaço. Por Paulo Nogueira

Atualizado em 6 de maio de 2015 às 10:17
Forte para 2018
Forte para 2018

A direita não deve ter ficado muito feliz ontem.

Porque o fato é: Lula surrou o Panelaço.

Aconteceu com o Panelaço o mesmo que ocorrera com o Protesto de 12 de abril: murchou, pifou, depois de uma primeira edição surpreendentemente bem sucedida.

O duplo fracasso – do Panelaço e do Protesto – trai uma verdade doída para os interessados na derrubada de Dilma: seu momento passou.

Passou primeiro porque é simplesmente uma estupidez querer cassar 54 milhões de votos sob pretextos cínicos, falsos e vis.

Segundo porque o governo Dilma e o PT retomaram a iniciativa.

Ficou claro, por exemplo, que ao contrário do que a imprensa vinha tentando propagar os problemas econômicos do país não são exclusividade nacional. Fazem parte de um drama mundial.

Foi grande o esforço dos comentaristas das corporações de mídia em levar os inocentes a crer que o dólar alto era um fenômeno apenas do Brasil.

Mentira.

Houve também uma mobilização conservadora para retratar uma Petrobras aos pedaços.

Outra mentira.

As ações da Petrobras não param de subir, e investimentos bilionários na empresa feitos pela China e pela Shell mostram que a mídia brasileira definitivamente não é levada a sério fora do seu quadrado de atuação.

E então chegamos a Lula, a grande estrela do programa do PT que foi ao ar ontem em rede nacional.

Para desespero da oposição, Lula demonstrou que é o Lula de sempre. Não apenas exibe vigor físico como continua a dominar a arte de falar e convencer.

É um caso único de poder de retórica no universo político brasileiro. Lula reúne simplicidade e profundidade em seu discurso, e transmite sinceridade mesmo quando fala alguma bobagem.

Comparemos.

Aécio fala com pedantismo, com ares de político da Velha República, um Tancredo com implante de cabelo e dentes artificialmente brancos.

FHC é aquele professor que repete a mesma coisa há meio século, e que ninguém aguenta mais escutar. Alckmin é uma mistura de Frontal com Dormonid.

E Dilma pensa melhor que fala, muito melhor. Usa frases longas e repete expressões que acabam com qualquer estilo. (Acredito que etc etc, por exemplo.)

Dilma poderia – deveria – ter treinado a arte de falar em público, mas é preciso reconhecer que mesmo com todas as suas limitações neste terreno ela não teve maiores problemas em lidar com Serra e Aécio.

As circunstâncias precipitaram os debates sobre 2018, e Lula aparentemente leva muita vantagem sobre seus eventuais oponentes.

A direita talvez se preocupe com o tom incisivo de Lula nos últimos tempos, mas não há razões para pânico.

Lula está mobilizando a militância do PT com seu discurso ligeiramente radicalizado, o mesmo grupo que provavelmente o levará ao Planalto em 2018.

Depois, seu espírito conciliador, de sindicalista acostumado a negociar, prevalecerá.

Num país tão polarizado, tão dividido, tão cheio de ódio, um conciliador pode devolver o sentimento perdido de unidade.

Até por isso Lula sobra, desde já, para 2018.