Lula é aclamado por multidão em Curitiba: ‘Obrigado por tudo o que fizeram por mim’

Atualizado em 17 de setembro de 2022 às 17:06
Ao lado de Gleisi, Requião, Manuela D’Ávila e Dilma, entre outros, Lula disse que aprendeu a amar Curitiba, cidade onde conheceu a sua atual esposa (Imagem: TVPT/Youtube/Reprodução – Eduardo Matysiak)

Por Tiago Pereira

Em comício neste sábado (17) na chamada Boca Maldita, tradicional palco de manifestações democráticas no centro da capital paranaese, o candidato da coligação Brasil da Esperança à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), agradeceu o apoio que recebeu durante a sua prisão política pela Lava Jato. Foi a primeira vez que Lula voltou a Curitiba, cidade onde passou 580 dias em prisão política, em razão da farsa jurídica da Operação Lava Jato, que o tirou da disputa presidencial de 2018. Ele foi recebido com uma salva de “bom dia, presidente Lula”, o grito que marcou os a vigília “Lula Livre” durante o período sua prisão.

“Tem gente que pensa que eu fiquei com ódio de Curitiba, porque fiquei preso aqui. A cadeia me fez aprender a amar Curitiba. Foi aqui que conheci a Janja, e foi aqui que decidimos nos casar. Tenho gratidão por Curitiba. Tenho muito carinho pelos homens e mulheres daqui e de outros estados que não mediram esforços por 580 dias… pedindo a minha liberdade”, disse às milhares de pessoas que acompanharam o ato. “Obrigado, Curitiba, por tudo o que fizeram por mim e pelo Brasil”, ressaltou Lula.

O candidato disse ainda que há muito tempo insistia com a presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, por um grande ato na capital paranaense. “Diziam que o Paraná é bolsonarista. ‘Pois é lá que eu quero ir, na Boca Maldita, para conversar com o povo do Paraná’”, declarou.

O ex-presidente também saudou Roberto Requião (PT), candidato da coligação ao governo paranaense, como o político que “mais defende a soberania” do país, em especial por sua luta contra as privatizações de empresas públicas sob os governos Temer e Bolsonaro. Lula disse ainda que quando Requião se filiou ao PT, em março deste ano, foi “um dos dias mais felizes” da sua vida.

 Mais e melhor

Em seu discurso, Lula disse que, se eleito, fará “mais e melhor” do que durante os seus dois primeiros mandatos. Para recuperar a defasagem no ensino das crianças, em função da pandemia e do descaso do governo Bolsonaro, o petista defendeu “dotar o país de escolas em tempo integral”. E voltou a criticar a qualidade da merenda escolar, graças ao congelamento das verbas federais que já dura cinco anos. Também sinalizou com a construção de novas universidades, e disse que programas como o Fies e o Prouni, “vão voltar com força”. “Não existe exemplo na história de nenhum país que se desenvolveu sem investir em educação”.

O candidato também afirmou que pretende reduzir a fila do INSS. Lembrou que, durante o seu governo, o tempo para a concessão das aposentadorias e outros benefícios era de 20 dias, em média. “Hoje tem uma fila de quatro anos”. Além disso, também aumentar o valor do salário mínimo, recuperando o poder de compra dos aposentados.

A crise alimentar também foi destacada no discurso de Lula em Curitiba. Ele lembrou durante o governo da ex-presidenta Dilma Rousseff, que foi ovacionada pela multidão, estudos da ONU comprovaram que o Brasil havia saído do Mapa da Fome, onde esteve desde sempre. “Não tem explicação para (agora) ter 33 milhões de pessoas com fome“, se indignou o candidato, ressaltando que o Brasil é o maior produtor de alimentos do mundo. Desse modo, se comprometeu a fortalecer as políticas voltadas à agricultura familiar. Para o ex-presidente, o agronegócio e os pequenos produtores podem conviver “em harmonia”.

País civilizado

Com críticas a Bolsonaro, Lula afirmou que o Brasil precisa de um presidente “civilizado”. Nesse sentido, ele afirmou que pretende regular o artigo da Constituição Federal que garante igualdade salarial entre homens e mulheres. Defendeu o “empoderamento” das mulheres e o combate sem trégua ao feminicídio, “para não ver todo dia na televisão a barbárie de um homem matando uma mulher com facada, machadada e tiro”. Disse que só tem um caminho para o agressor de mulheres: “A cadeia”.

Além disso, Lula afirmou que o preconceito racial é “uma coisa nojenta”, e também pregou respeito à população LGBTQIA+. Em seguida, Lula reafirmou que pretende restabelecer os ministérios da Mulher, da Igualdade Racial, e da Cultura, bem como criar o Ministério dos Povos Indígenas. Também defendeu o Estado laico como garantia da liberdade religiosa, e condenou a perseguição a qualquer tipo de crença.

“A gente só quer voltar a sorrir, trabalhar, morar, estudar, passear e namorar. Não queremos nada demais. Mas tem uma elite perversa que não quer”, afirmou o candidato. “Não quero governar, quero cuidar das pessoas”, prometeu.

Indignação

A “indignação” com a atual situação do Brasil marcou o discurso de Requião. “Fico indignado quando vejo mulheres avançando num caminhão de lixo para alimentar suas famílias. Fico indignado quando os que tomam conta do Brasil retiram os direitos dos trabalhadores, violentam as aposentadorias, para concentrar dinheiro na mão de meia dúzia de pessoas.”

No comício de Curitiba, Lula também falou sobre o governo atual do Paraná. Ele classificou Bolsonaro e Ratinho Jr (PSD), como “enganos da população”. “E precisamos corrigir isso agora”, afirmou. Ele criticou elevação da carga tributária no estado, que compromete o desenvolvimento das pequenas e médias indústrias, enquanto as multinacionais receberam R$ 17 bilhões de reais em incentivos fiscais. Com menos de um terço desse valor, Requião afirmou que é possível corrigir a defasagem salarial de todos os funcionários públicos do Paraná.

Também prometeu reduzir os pedágios do Paraná, “os mais caros do país”, para um valor “simbólico”, que sirva apenas para garantir a manutenção das rodovias. Do mesmo modo, classificou como “roubo” as tarifas de água e luz no estado. Assim, Requião prometeu, se eleito, colocar na rua os diretores da Companhia Paranaense de Energia (Copel) e da Sanepar (Companhia de Saneamento do Paraná), entregando às empresas de volta “ao povo paranaese”.

“Ou garantimos um país soberano, um povo independente, com respeito às empresas nacionais e paranaenses, com respeito ao trabalhador, ou entramos nessa loucura dos que querem transformar o Brasil numa fazenda, com o povo submetido aos interesses dos ricos e poderosos”, afirmou o candidato. “Estamos decidindo não a eleição do Requião, nem apenas a eleição do Lula. Estamos decidindo o futuro do Brasil”.

Grito de liberdade

Em sua manifestação, a ex-presidente Dilma saudou disse que o “bom dia, presidente Lula” foi um “grito de liberdade” que saía de Curitiba, enquanto Lula permaneceu encarcerado pelos seus algozes da Lava Jato. Disse que foi a “resistência” do povo paranaense que permitiu a realização desse evento hoje.

Por outro lado, Dilma denunciou que o governo Bolsonaro está cortando o auxílio-creche. “É roubar o nosso futuro, porque é através da escola que podemos resgatar a brutal desigualdade que existe entre as famílias brasileiras”. A ex-presidenta também relembrou discurso marcante no dia em que se consumou o golpe do impeachment contra ela em que disse: “Nós voltaremos”. “Nós voltaremos, porque estamos do lado certo da História. Lula é o lado certo da História, o lado da reconstrução do Brasil”.

Redenção e vitória

Por sua vez e visivelmente emocionada, Gleisi Hoffmann celebrou a volta de Lula a Curitiba “nos braços do povo”. “É a redenção e a vitória da nossa luta contra 580 dias de injustiça e perseguição”. Para ela, Curitiba, sua cidade natal, “não é, nem nunca foi uma ‘república’”, como diziam os apoiadores da Lava Jato.

Ela destacou ainda que o ex-juiz Sérgio Moro foi “escorraçado” de São Paulo, ao ter o seu domicílio no estado negado pela Justiça Eleitoral. O ex-juiz e ex-ministro de Bolsonaro pretendeu se candidatar a um cargo legislativo junto ao eleitorado paulista. Finalizando, Gleis disse que agora é a vez do povo paranaense derrotá-lo nas urnas. Moro é candidato a senador e está atrás de Álvaro Dias nas pesquisas.

A ex-deputada Manuela D’Ávila comemorou o fim iminente dessa “noite imensa” que se abateu sobre o Brasil, desde o golpe do impeachment, em 2016. “Não tem noite que não termine (…). Quem decide a eleição nos próximos dias não são eles. Quem tem o poder de decidir são vocês, mulheres e homens de todas as lutas, da luta pela reforma agrária, da luta antirracista. Nós, mulheres, com a nossa luta pela emancipação, mães com filhos no colo”.

Para Manuela, é principalmente a luta contra a fome e contra a violência que deve mobilizar a militância. “Daremos todo nosso gás, para vivermos em paz. O amanhã vai chegar, daqui 15 dias, com a nossa força”.

Publicado originalmente pela Rede Brasil Atual

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