Publicado no Brasil247.
POR RAFAEL CEDRO
Este artigo de reflexão discute a hipótese de se juntar os dois principais candidatos presidenciais do campo progressista, da centro-esquerda, em uma única chapa, apontando alguns dos inúmeros argumentos para tal junção. Juntar os 36% de intenções de voto de Lula mais os 5%-10% de Ciro (ou potencialmente até mais, tendo em vista que ainda estamos a cerca de um ano das eleições), dá para selar a definição da eleição presidencial de 2018 já no primeiro turno.
Mas, por que os campos dos dois candidatos deveriam considerar seriamente isso? Primeiramente, porque assim se conseguiria viabilizar a formação efetiva de uma frente progressista, praticamente imbatível frente aos Hucks, Dórias, Alckmins, Bolsonaros e/ou outra invenção qualquer da grande mídia. Segundo, que a capacidade de oratória de Lula e de Ciro Gomes, distribuídas em andanças pelo país, têm potencial realmente de gerar uma onda de mobilização, com base em ideias de futuro, de construção e de nação.
É dentre os aspectos específicos, no entanto, que a coisa fica ainda mais interessante. Alguns dos pontos são destacados abaixo.
Argumentos para Lula se unir a Ciro:
– Ciro tem um projeto de país claro, sobre como retomar a economia, como reconstruir o desenvolvimento produtivo-industrial do país e implementar um modelo macroeconômico livre do rentismo que adoece a economia nacional;
– Tem, ainda, grande capacidade de mobilizar os universitários e a inteligência acadêmica nacional, através da discussão de ideias e de um projeto de país – projeto este, por sinal, que em inúmeros aspectos é similar às bandeiras históricas do petismo e da centro-esquerda brasileira (vide as inúmeras palestras e debates que Ciro tem participado);
– Sempre foi muito leal a Lula, mesmo quando fez/faz críticas, que são genuínas, de substância, e não por simples criticismo, e que deveriam de fato ser ouvidas. Vale lembrar que Ciro já abdicou em distintas ocasiões de candidatura própria em nome de candidaturas presidenciais petistas, e foi um dos mais importantes defensores da institucionalidade e da legitimidade dos governos do PT nas ocasiões em que a direita e a mídia tentavam desestabilizar o governo petista (2006, 2014-2016);
– Seria um vice respeitabilíssimo, com ampla experiência administrativa, tendo sido governador, prefeito de capital, Ministro da Fazenda, deputado, executivo de empresa, nunca processado por improbidade e deixou os cargos executivos que ocupou com altíssimos níveis de aprovação;
– Com Ciro como candidato a vice, na eventual hipótese de a justiça impedir Lula de se candidatar, seria bem mais fácil e imediata a transferência de votos de Lula para o “vice” da sua chapa (Ciro, que já teria consigo o porte necessário de presidenciável, que já é reconhecido, e que neste caso poderia passar a ter o petista Fernando Haddad como seu vice). Este teria, no entanto, que ser um acerto claro e prévio.
Argumentos para Ciro se unir a Lula:
– Apesar das críticas que Ciro tem a Lula, que são de substância e não por mero criticismo e sempre destacando e enaltecendo os aspectos positivos que Lula trouxe ao país, Ciro deveria se unir a Lula em nome de um bem maior: seria a chance mais robusta de resgatar o povo brasileiro das trevas que se tornou o Brasil depois de 2016 (um país entristecido, pouco respeitado, com o Estado de Direito em frangalhos, com direitos e avanços que haviam sido historicamente conquistados sendo retirados semana a semana). Este é o momento, portanto, de, deixando as divergências de lado, unir as forças políticas mais robustas que estão comprometidas com um desenvolvimento progressista, calcado na justiça social e no fortalecimento do sistema produtivo nacional, em detrimento do rentismo que tomou conta das esferas mais estratégicas de poder.
– Seria mediante um compromisso assumido por Lula de: (i) caso Lula seja eleito presidente, o vice Ciro teria papel relevante no apoio ao desenho da estratégia de desenvolvimento econômico do país (tema sobre o qual Ciro vem se debruçando aprofundadamente e conversando com o melhor da inteligência nacional, em fóruns de debate, universidades, sindicatos, etc, sempre muito ovacionado); seria muito mais que um “vice decorativo”, mas um verdadeiro parceiro para a implementação de um projeto de país; Ciro poderia até mesmo – tal como o fez o então vice de Lula, José de Alencar (que foi também Ministro da Defesa) – ocupar o cargo duplo de vice-presidente e de Ministro de Estado (neste caso, o posto de Ministro da Fazenda ou Casa Civil da Presidência); (ii) caso a justiça impeça Lula, no apagar das luzes, de concorrer ainda durante as eleições de 2018, Ciro (então candidato a vice de Lula) seria então automaticamente alçado à cabeça de chapa (com um quadro como o ex-Ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo, Haddad, em sua vice); nesta hipótese, vencida a batalha judicial posteriormente às eleições, com sua ulterior absolvição, Lula poderia ainda no futuro até mesmo se unir ao governo na posição de Ministro das Relações Exteriores, ajudando a reconstruir o prestígio do país no cenário internacional (lembrando que será um país em reconstrução, e precisaremos dos “melhores jogadores” em campo).
Recado aos petistas: prestem atenção com carinho no projeto de país que Ciro Gomes vem propondo, o seu diagnóstico sobre os problemas econômicos e sociais do país e especialmente os seus prognósticos de como os enfrentar.
À turma do Ciro, e ao Ciro Gomes: observem que, por mais que o avanço eleitoral de Lula traga polarizações, é ainda a força política mais pujante que encarna no país o sentimento de esperança; esperança de que as políticas públicas e mudanças institucionais anti-povo que não foram chanceladas pelas urnas possam ser de fato revertidas e que o Brasil tenha um novo momento em que se possa voltar a pensar o desenvolvimento do país.
Uma união de Lula e Ciro não seria uma união de iguais. Será uma união de diferentes, mas que se somam em nome de um bem maior e comum: a sociedade brasileira. Sugiro um início de debate entre os dois grupos, deixando-se o ceticismo mútuo de lado, para se estabelecer um diálogo genuíno.
Não é isto, afinal, o que se deve esperar de uma efetiva democracia? 2018 é o ano em que todas as fichas estarão em jogo; e o ganhador ou perdedor, mais do que os partidos políticos, será o querido povo brasileiro.