Lula enquadra Bolsonaro, Sergio Moro e Villas Bôas. Por Moisés Mendes

Atualizado em 11 de março de 2021 às 10:38
a

Publicado originalmente no Blog do autor:

Por Moisés Mendes

A surra que Lula deu em Bolsonaro e Sergio Moro teve o primeiro efeito prático. Atirou Bolsonaro nos braços dos defensores da vacinação dentro do governo, a turma liderada por Paulo Guedes e Hamilton Mourão.

O genocida agora é o pregador da vacina e da máscara. É uma reação cínica, depois que Lula o definiu como um imbecil negacionista que não deve ser ouvido pela população. Bolsonaro poderia ter esperado um pouco mais para mandar os filhos espalharem que agora ele passou a ter fé na vacina.

A resposta é boa para a saúde pública, porque ele finalmente faz o que se negava a fazer, mas como reação política é frustrante. A direita e a extrema direita esperavam que ele pegasse pesado com Lula.

E por que não pegou? Por que não questionou a decisão de Fachin e não atacou o Supremo, como fez durante meses? Porque ele e os filhos não podem entrar em conflito com o STF, principalmente Flávio, o empreendedor.

Lula pôs Bolsonaro e os militares numa arapuca. Condenou, para que todo o Brasil ouvisse, o famoso tuíte de Eduardo Villas Bôas, de 2018.

Se ele fosse presidente, a nota com a pressão do general sobre o Supremo provocaria a demissão do então chefe do Exército “na hora”. O presidente era o golpista Michel Temer, o jaburu empalhado.

O certo é que não houve, por parte de Bolsonaro e dos militares, nenhuma reação à altura do que Lula disse hoje. O ex-presidente mostrou que não há mais o que temer nas ameaças e blefes de golpe de Bolsonaro e dos generais.

A Folha tentou, num texto com vozes ocultas, dizer como ficou o humor dos generais depois da fala de Lula. E disse o óbvio: que eles não gostaram, principalmente da crítica ao general Villas Bôas.

Diz a Folha que Villas Bôas não tem condições físicas para dar respostas a Lula. Mas seus colegas, da reserva e da ativa, têm muitas condições.

A Folha chegou a ouvir um coronel (era só o que faltava), como voz forte da Força Aérea, sem citar o nome, claro. Se fosse na Argentina ou no Chile ou no Uruguai, um coronel da Força Aérea não seria ouvido nem para opinar sobre a melhor tinta branca para pintar meios-fios.

A Folha informa, como se estivesse dando uma informação decisiva para a compreensão das relações dos militares com o ex-presidente, que “a volta de Lula ao jogo de 2022 é vista como um potencial problema para os militares”.

E agora vem a melhor parte. As Forças Armadas, informa a Folha, mesmo sendo instituições de Estado, e não de governo, “estarão colocadas no debate como parte de um dos lados da disputa” de 2022.

Colocadas de que forma? Como voz ativa? Com poder para interferir no debate? Parece difícil, depois do que Lula disse hoje e até do que Edson Fachin andou dizendo esses dias sobre o lugar dos militares.

Lula já avisou que não aceita nem nota (com texto precário) do Clube Militar. Parece que não há como imaginar as Forças Armadas “colocadas no debate”, como deseja a Folha.

É provável que, a partir de agora, estejam mais deslocadas do que colocadas.