“Lula entra em campanha para tirar Bolsonaro”, diz capa do Le Monde

Atualizado em 16 de agosto de 2022 às 19:16
Lula
Campanha de Lula é destaque no jornal Le Monde.

O início da campanha do ex-presidente Lula é capa do Le Monde da edição desta quarta-feira: “Lula entra em campanha para tirar Bolsonaro”. Trata-se da “mais importante (e sobretudo a última) da longa carreira política de Luiz Inacio Lula da Silva”, considera o jornal.

“Lula candidato? É uma constante no Brasil. Quase uma passagem obrigatória. Este ano, o ex-metalúrgico faz sua sexta campanha presidencial (oitava se considerarmos as campanhas para reeleger sua sucessora Dilma Rousseff). Um recorde em democracia. Uma máquina experiente. Nestas últimas semanas, o líder carismático do Partido dos Trabalhadores (PT) multiplicou comícios pelos quatro cantos do país. Levado por multidões eufóricas, esse tribuno ímpar está em casa”.

O jornal francês observa os resultados da estratégia de Lula e, fora Bolsonaro, qualifica os demais adversários de “figurantes”.

“Com sucesso, uma pesquisa do Instituto Datafolha lhe dava no final de julho 47% de intenções de voto, 18 pontos a mais do que Bolsonaro, com 29%. Relegados por essa ‘batalha de Titãs’, os outros candidatos, tais como o trabalhista Ciro Gomes ou a centrista Simone Tebet, são reduzidos ao papel de figuração: nenhum ultrapassa a marca dos 8%”.

A publicação francesa avalia que o “a vitória deve ser decidida no sudeste, em particular em São Paulo, estado mais rico e populoso da federação” uma vez que o “nordeste estando conquistado pela esquerda, Centro-oeste e Sul pela extrema direita”, enquanto a “Amazônia permanece incerta”.

O desafio é São Paulo, de acordou com a reportagem do correspondente Bruno Meyerfeld, marcado por um eleitorado “paulista de classe média rural, rígido nos costumes e liberal na economia, historicamente hostil a Lula, o ‘vermelho'”. A “cartada de mestre” de Lula foi, nos termos do jornal, a escolha de Alckmin, cuja missão é “convencer os eleitores ainda reticentes ao PT”.

O Le Monde considera como “prudente” a estratégia lulista de “evitar acidentes à esquerda” com um slogan e um programa”consensuais”, com o fim da austeridade, mais investimentos em programas sociais e ambientais de um lado, e evitar delicadamente assuntos “polêmicos” como o aborto, por outro lado.

O diário parisiense aponta os desafios que se anunciam para a campanha, como a mobilização que Bolsonaro convoca para o Dia da Independência.

“O período promete uma virada. Bolsonaro não parou de atacar o sistema de voto eletrônico do país, dando a entender que ele não reconheceria o veredito das urnas em caso de derrota. Nas redes sociais, alguns de seus apoiadores convocam uma insurreição popular para o 7 de setembro, e até mesmo um golpe de Estado”.

A reportagem indica a estratégia de reação da esquerda.

“Na realidade, os lulistas já preparam a etapa seguinte. Para a esquerda, a questão é obter o reconhecimento rápido e internacional dos resultados das urnas a fim de contrapor os desejos golpistas de Bolsonaro. Contatos foram feitos com embaixadas e em particular com a dos Estados Unidos”.

Questionando o possível “orgulho” dos dirigentes do PT diante das pesquisas de intenção de voto, a publicação fala em “tom triunfal”.

Do outro lado

Além do Auxílio Brasil, o Le Monde aborda a investida bolsonarista no discurso moral com vistas ao eleitorado evangélico, principalmente com o lançamento de Michelle na campanha. “Essa estratégia começa a dar frutos. Jair Bolsonaro progride no eleitorado popular e religioso”.

“No PT, alguns acionam o ‘alerta vermelho,’ exigindo um discurso mais incisivo, uma aproximação com os evangélicos e uma presença forte de Lula nas redes sociais. Sinal dos tempos: o tribuno deixou esses dias os comícios para exercitar o ao vivo, online, expressando-se ao lado do jovem deputado centrista André Janones, estrela do Facebook, onde tem cerca de 8 milhões de seguidores. Os mais próximos do ex-metalúrgico pensam em um culto pentecostal em São Paulo, onde Lula apareceria rodeado de pastores”.