Nem Getúlio e nem João Goulart tiveram um contraponto ao ataque selvagem da imprensa.
Lula, com razão, deu ontem graças a Deus pelo aparecimento da internet, “nossa mídia”.
Não que a internet seja dele, ou do PT. Mas o fato de que a mídia digital não é controlada pelos suspeitos de sempre – Marinhos, Frias, Civitas, Mesquitas – é de fato alentador não apenas para Lula mas para a democracia.
No Brasil, os interesses privados da mídia desestabilizaram, ao longo da história, mais de um governo que não fizesse o que o chamado 1% queria que fizesse.
Jango, em 1964, foi derrubado. Antes dele, em 1954, Getúlio foi levado ao suicídio.
Não havia o contraponto que a internet oferece. A sociedade era manipulada sem a menor cerimônia.
Lacerda falava no “Mar de Lama” de Getúlio, e todos reproduziam. A maneira mais canalha e mais barata de atacar governos de esquerda é pelo lado da “corrupção”.
Os cidadãos mais influenciados pelo noticiário são levados a crer que o que existe na política é uma roubalheira, e que tirando o partido do poder o problema estará resolvido.
Quem mais fala em corrupção à luz do sol em geral é quem mais à pratica na sombra. Nos últimos anos, as empresas de mídia, por exemplo, levaram a sonegação de impostos ao estado da arte enquanto bradavam em manchetes sermões moralistas e mentirosos.
Mas o que você pode fazer quando todos os microfones estão com os outros?
Getúlio Vargas, num gesto inteligente e ao mesmo tempo desesperado, tentou criar uma alternativa à voz ultraconservadora dos barões da imprensa.
Ajudou o jornalista Samuel Wainer a lançar a Última Hora, jornal voltado para os interesses populares. Mas foi uma voz solitária contra a de uma matilha.
Carlos Lacerda, o Corvo, o desestabilizador mais estridente, começou a atacar Wainer por não ter nascido no Brasil, o que contrariaria a lei que rege a propriedade de mídia no Brasil.
(Ninguém, mais tarde, reclamaria do fato de a família Civita não ser originária do Brasil, excetuados os Mesquitas aristocráticos, porque ali estava mais uma voz da turma.)
Sob as condições em que foram caçados Getúlio e Jango, é presumível que Lula não tivesse resistido ao assédio.
Imagine o circo do mensalão sem o contrapeso da mídia digital. Provavelmente teríamos hoje um presidente chamado Joaquim Barbosa, a serviço do 1% e comprometido com a Globo e tudo que de maléfico ela representa.
Por isso Lula deve ser mesmo grato à internet. E não apenas ele, mas todos aqueles – petistas ou não – que anseiam por um país menos desigual e menos injusto do que aquele que a elite representada pelas famílias da mídia impôs aos brasileiros.