No dia em que se divulga o balanço desastroso do governo Jair Bolsonaro em todos os setores da vida nacional, consolidado em números no relatório das equipes de transição de poder, a Folha de S. Paulo prefere tratar de outro assunto em editorial com manchete em seu site, trocando o que é fato pelo que é apenas preconceito e suposição: descrever o que, para o jornal, é o fracasso antecipado do governo Lula.
Acusa Lula de ter “visão ultrapassada e corporativismo” por não defender privatizações generalizadas e os cortes que destruíram a máquina pública, numa ortodoxia neoliberal que já não tem apoio em nenhuma corrente de pensamento econômico, que coloca o jornal no patamar solitariamente ocupado por Paulo Guedes, que deixa o governo isolado ao ponto de nem mesmo ligarem para que “tire férias” e se despeça antecipadamente do governo, se é que haverá alguém para despedir-se dele.
A Folha deveria assumir o papel de verter lágrimas por ele. Afinal, Guedes, para o papelucho da Barão de Limeira, mudou o pais “para melhor”:
O crescimento mostrou ritmo além do esperado, com o PIB avançando acima dos 3%, e o emprego teve retomada vigorosa. A inflação deixou o patamar de dois dígitos e se encontra em trajetória de queda mais adiantada que a de países ricos. A dívida pública voltou ao patamar pré-pandemia.
Realmente é de pensar se os editores da Folha não vão acender lanternas para os extraterrestres, porque achar que este país mergulhado na miséria, na desorganização e na lei da selva, que sobrevive vendendo cacarecos e fazendo injeções de recursos sempre em caráter emergencial (e descaradamente eleitoral), sem qualquer plano ou rumo econômico está bem é caso de demandar medicação.
Parece que já estão mesmo numa realidade paralela, onde seus ódios e humores ideológicos têm mais importância do que eles veem nas ruas das cidades e no desamparo das pessoas que mal tem com que sobreviver.
No caso da Folha, porém, parece haver ainda um rasgo de sadismo, com seus editores tomados de prazer em ver os seus ainda leitores sofrerem ao ver o jornal chafurdar numa lama neoliberalóide e irracional, que em nada difere dos delírios de seitas direitista como as que assombram as portas de quartel.
A reação de seus assinantes, nos comentários do site, seria de fazer um frade corar.
Mas os agora encanecidos yuppies que agora controlam jornal não coram. Para isso, seria necessário ter algum resquício de vergonha.
Publicado originalmente em Tijolaço