Na primeira viagem ao Nordeste para compromissos políticos após recuperar sua elegibilidade, Lula percorre os estados de Pernambuco, Piauí, Maranhão, Ceará e Rio Grande do Norte para conhecer as demandas dos trabalhadores brasileiros e transmitir esperança para o futuro do país.
No Maranhão, a agenda foi marcada por encontro com lideranças do movimento indígena, onde Lula foi batizado com o título de Guardião dos Territórios dos Povos Indígenas do Estado, além de agendas políticas voltadas para o fortalecimento da saúde e da educação pública.
O encerramento foi um encontro com representantes dos movimentos sociais da região e militantes do Partido dos Trabalhadores (PT) na sede da Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado do Maranhão (FETAEMA).
Na oportunidade, Lula pediu uma reflexão sobre o que aconteceu em um passado recente, referindo-se à ditadura militar e o que está acontecendo hoje no país, com o incentivo ao uso de armas e a militarização dos órgãos públicos.
“Um país que não tem bancos públicos, que não tem empresas públicas que podem fazer investimentos, não tem soberania. Um país que não tem soberania está à deriva, governado por um genocida que não tem respeito às pessoas”, alerta o ex-presidente.
Lula relembra programas sociais que levaram a população mais pobre a ter direito à comida na mesa, como o Fome Zero, o acesso à educação pública, com a criação dos institutos federais, à energia, por meio do Luz para Todos, o fortalecimento do campo, por meio do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), entre outros.
“Eram programas pequenos, como o PAA, mas que garantiam que os trabalhadores do campo pudessem vender o seu produto a um preço justo. Tudo isso acabou. Em nome de quê? Em nome de que razão?”, questiona Lula.
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Em contraponto às conquistas, denuncia que o impeachment da presidenta Dilma em 2016 não tinha a intenção de retirá-la da presidência, mas sim destruir o projeto político progressista que vinha sendo executado e a ascensão da população mais pobre a direitos antes acesso apenas pela elite.
“Desde o impeachment entendi que a intenção deles não era afastar apenas a Dilma. Eles queriam afastar toda a proposta de governo e os avanços que estávamos alcançando (…) a elite brasileira nunca enxergou o povo pobre desse país”, afirma.
Além da completa anulação de programas sociais, os cortes orçamentários de mais de R$ 30 bilhões anunciados pelo governo Bolsonaro em abril de 2021 atacaram diretamente direitos como o acesso à educação, saúde e moradia.
Em meio à pandemia, o próprio Ministério da Saúde perdeu mais de R$ 2 bilhões da base orçamentária, o que afetou as ações de enfrentamento à pandemia, o custeio para assistência hospitalar e ambulatorial, além de pesquisas na área.
Lula garante que esse desmonte é fruto do perfil do governo Bolsonaro, contrário a qualquer política de acesso à garantia de direitos à população mais pobre do país.
“Temos um governo que em nenhum momento usa as palavras distribuição de renda e agricultura familiar. A única coisa a que ele se dedica é brigar com a Suprema Corte, com os movimentos sociais, com os indígenas”, ressalta.
A dirigente estadual do MST, Gilvânia Ferreira, entregou uma carta aberta em nome dos movimentos sociais, em que denuncia o avanço do agronegócio e da destruição ambiental, intensificada a partir do impeachment e da chegada do presidente Bolsonaro, além de firmar o compromisso de construção de uma frente ampla para a garantia de novos rumos para o país.
“Reafirmamos nosso compromisso de seguir lutando em defesa das vidas. Continuaremos a luta por condições de existência digna no campo e na cidade, reconhecendo a importância da luta pela moradia, pela efetivação da Reforma Agrária, pelo reconhecimento dos territórios e dos direitos das comunidades tradicionais, a exemplo das populações indígenas, quilombolas, ribeirinhas e extrativistas”, diz trecho da carta entregue.
O momento foi marcado ainda por uma homenagem ao líder camponês maranhense e um dos fundadores do PT, Manoel da Conceição, que faleceu na última quarta-feira (18), após complicações de saúde.
Símbolo de resistência à ditadura militar, Manoel da Conceição foi perseguido, torturado e exilado, mas deixa todo um legado de organização da luta pela democracia e pelos direitos dos povos dos campos e das florestas.
“O Mané me ajudou a construir o partido dos trabalhadores e tivemos uma convivência extraordinária. A última vez que o vi foi aqui no Maranhão, já um pouco debilitado. Enviem meu abraço para Denise. Estaremos todos aqui para confortar e abraçar a família do Maneco”, declara Lula.
Edição: Daniel Lamir
Publicado originalmente no Brasil de Fato
Por Mariana Castro