O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta quarta-feira (17) que decidiu ler um discurso preparado por sua assessoria durante um evento com pessoas com deficiência após ser alertado pela primeira-dama, Janja. O petista explicou que tomou a decisão para evitar “criar um problema”.
“Janja me alertou de uma coisa. Ela falou: ‘Amor, tome cuidado com cada palavra que você vai falar porque essa gente tem a sensibilidade aguçada’. Então, eu decidi ler para não falar nenhuma palavra que possa me criar problema”, disse Lula na 5ª edição da Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, em Brasília.
O evento foi convocado em abril de 2023, seguindo etapas municipais, estaduais e livres. Durante o discurso, Lula destacou a importância da conferência para a democracia e a qualidade de vida das pessoas.
“A construção deve ser horizontal e não apenas com os governantes, dos seus palácios, tomando decisão de forma vertical sobre realidade que não conhecem integralmente. Reafirmamos nosso compromisso de criar condições para que vocês tenham acesso a todos os direitos constitucionais que o Estado tem o dever de assegurar sem deixar ninguém para trás”, afirmou.
A decisão de ler um discurso preparado ocorre um dia após Lula ter feito uma declaração controversa sobre violência contra mulheres. Durante uma reunião no Palácio do Planalto, o presidente afirmou que é “inacreditável” que a violência contra a mulher aumente após jogos de futebol, mas complementou dizendo que “se o cara é corintiano, tudo bem”, em tom de brincadeira.
No discurso lido, Lula também defendeu a destinação de recursos para ações voltadas às pessoas com deficiência e outras áreas sociais. “Eu brigo todo santo dia no governo. Toda vez que a gente vai discutir um assunto qualquer, sempre aparece um artigo no jornal, sempre aparece um artigo na revista, sempre aparece um comentarista na televisão para dizer que a gente vai gastar muito. Vai gastar com educação, vai gastar com saúde, vai gastar com transporte, vai gastar com reforma agrária, vai gastar com pessoa com deficiência”, disse o presidente.
Assista o evento completo:
Durante o evento, o governo anunciou a criação do Sistema Nacional de Cadastro da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (SisTEA). A medida visa facilitar a emissão padronizada da Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (Ciptea), sendo o sistema gerido pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania.
Ao final do discurso, Lula voltou a falar de improviso, mencionando o caso de Sônia Maria de Jesus, retirada da casa de um desembargador e, após decisão judicial, retornando ao local.
“Como é que pode haver uma decisão para que essa pessoa que estava há 41 anos numa casa voltasse para a mesma casa? Em nome do quê? Em defesa do quê? Eu não quero criminalizar e julgar, mas a casa que ela trabalhava era de um desembargador. Então, não tem sentido”, disse Lula, dirigindo-se ao ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida.
“Eu só quero, Silvio, dizer para você que eu me interessei pelo caso e vou consultar alguns ministros para saber o que de fato está acontecendo porque, se a sociedade para de acreditar nas instituições, sabemos o que pode acontecer neste país”, completou o presidente.
Em setembro do ano passado, o ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF), manteve uma decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que autorizou o desembargador Jorge Luiz Borba, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, a voltar a ter contato com Sônia. O Ministério Público do Trabalho havia acusado a família do desembargador de mantê-la em situação semelhante à escravidão.