Por Helena Chagas
Quem tem alguma experiência em campanhas eleitorais conhece o efeito psicológico da movimentação de alguns pontos dos candidatos nas pesquisas na reta final. Ainda que sejam variações localizadas, sem representar ainda tendências confirmadas, simpatizantes e até dirigentes de campanhas que vêem o adversário subir são, às vezes, tomados pelo nervosismo. Nessa vibe, tentam caçar culpados, perdem tempo em discussões de mudanças que não vão fazer grande diferença, vazam sua preocupação à imprensa e, com isso, acabam multiplicando os efeitos negativos, aumentando o impacto daquilo que, aos olhos do eleitor, poderia não ter maior importância.
Do outro lado, o adversário aproveita-se da situação para tentar transformar sua variação dentro da margem de erro em “onda”, produzindo reações e se comportando como se seu candidato tivesse disparado — numa tentativa de criar uma espécie de profecia auto-realizável.
Ninguém nunca disse que a eleição de Lula seria um passeio, apesar de tantas pesquisas que apontavam, ao longo dos meses passados, a possibilidade de vitória sobre Jair Bolsonaro já no primeiro turno, tal a imensidão da diferença que os separava. Sempre foi óbvio que, na medida em que se aproximasse a eleição, esse quadro iria se mexer de alguma forma — sobretudo depois da aprovação da eleitoreira PEC Kamikaze, com seus aumentos de Auxílio e bolsas.
Alguma coisa Bolsonaro iria ganhar, já se sabia, possivelmente o suficiente para empurrar a eleição para um segundo turno. E daí? Até agora não surgiu um só levantamento de instituto de pesquisas com mínima credibilidade que aponte a vitória de Bolsonaro sobre Lula numa segunda rodada. E nem na primeira, aliás.
Não se justifica, portanto, a onda meio apavorada que tomou conta de aliados do petista nos últimos dias com a divulgação de levantamentos da Genial/Quaest apontando redução de 18 pontos para 9 pontos da diferença entre Lula e Bolsonaro em Minas Gerais e um empate técnico entre os dois em São Paulo (37% x 35%). Na esquizofrenia de quem teme a reeleição de um golpista, mas não consegue largar o hábito de bater num petista, é até normal que a grande mídia tenha superdimensionado esse recorte — ainda que a pesquisa nacional do mesmo instituto tenha mantido placar de 44% (- 1) para Lula e 31% (+1) para Bolsonaro.
Mas não que aliados, como o deputado André Janones, tenham se assustado a ponto de criticar a esquerda por “não falar com o chão de fábrica”. Se Lula não fala com o chão de fábrica, ficar difícil encontrar quem fala. Os números do ex-presidente são tão confortáveis junto ao eleitorado mais pobre do país que lhe permitem perder a “gordura” (alguns pontos) que, muito provavelmente, irá perder para Bolsonaro nesse um mês e meio que o separa da eleição. Perde aqui, ganha ali, e continua favorito — como provavelmente vai mostrar a sequência de pesquisas previstas para esta semana.
É assim mesmo, com emoção, que as campanhas se desenrolam nas últimas semanas. Mais do que qualquer um, Luiz Inácio Lula da Silva sabe que ninguém se elege de véspera, e que não se sobre aquela rampa do Planalto sem muita luta. Já mostrou ter sangue frio para isso, e precisa estar cercado de realistas — não do oba-oba dos otimistas em excesso, mas muito menos de derrotistas. Daqui até 2 de outubro — e, se preciso, até o dia 30 — o lema deve ser: muita calma nessa hora.
Publicado originalmente em Os Divergentes