“Lula será eleito e nós seremos presos”, disse procuradora da Lava Jato em chat com colegas

Atualizado em 5 de novembro de 2021 às 14:35
Deltan Dallagnol e Jerusa VIecili
Deltan Dallagnol e Jerusa Viecili, da Lava Jato

Os procuradores da extinta Lava Jato achavam que seriam presos num eventual governo Lula. O comentário, em tom de ironia, foi feito em 17 de maio de 2017 por Jerusa Viecili.

É o que mostram diálogos travados por mensagens de celular analisados pela Polícia Federal no âmbito da chamada Operação Spoofing e aos quais o DCM teve acesso.

Você pode ler mais reportagens desta série aqui: 123, 4 e 5.

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A conversa envolveu, além de Jerusa, Paulo Sérgio Ferreira Filho, Isabel Grobba e Orlando Martello. Eles deblateravam sobre o impacto das gravações nas quais Joesley Batista registrava pedidos de propina do então presidente Michel Temer, e de Aécio Neves (MG), na época senador pelo PSDB.

Em ações controladas pela Polícia Federal, o repasse de dinheiro a emissários de Temer e Aécio foi filmado. As cédulas tiveram os números de série previamente registrados e estavam acomodadas em malas e mochilas equipadas com chips.

O caminho do dinheiro foi monitorado pelos investigadores. A coisa foi toda vazada para o jornal O Globo.

Joesley e o irmão Wesley, donos da JBS, fecharam acordo de delação premiada com a PGR. O acerto com Janot foi fechado em tempo recorde e teve autorização do relator da Lava Jato no STF, ministro Edson Fachin.

É daí que sai o clássico momento em que Joesley comunica a Temer que está enviando dinheiro a Cunha, então na cadeia. Temer responde: “Tem que manter isso, viu?”

No bate-papo dos procuradores, Paulo Sérgio começa apontando que “essa confusão vai parar o país… Vão interromper o campeonato brasileiro. Bahia campeão!”

“Defendo uma delação com Temer ou Cunha para pegar Gilmar”, responde Orlando.

Jerusa encerra com uma profecia: “Povo pedindo diretas. Lula será eleito. E nós seremos presos”.

Lula foi para a prisão no dia 7 abril de 2018 em Curitiba. Ficou 580 dias.

Dois anos mais tarde, Jerusa alertaria os colegas de que eles ajudaram a eleger Jair Bolsonaro e que deveriam se desvincular dele, num colóquio enviado pela defesa de Lula ao Supremo.

“Delta, sobre a reaproximação com os jornalistas, minha opinião é de que precisamos nos desvincular do Bozo [Jair Bolsonaro], só assim os jornalistas vão ver a credibilidade e apoiar a LJ [‘lava jato’]. Temos que entender que a FT [força-tarefa] ajudou a eleger Bozo, e que, se ele atropelar a democracia, a LJ será lembrada como apoiadora. eu, pessoalmente, me preocupo muito com isso (vc sabe)”, disse a Dallagnol em 29 de março de 2019.

Jerusa se incomodou com o silêncio da turma quando Bolsonaro e seus aloprados elogiaram a ditadura militar.

“Agora, com a ‘comemoração da ditadura’ (embora não tenha vinculação direta com o combate à corrupção), estamos em silêncio nas redes sociais. Não prezamos a democracia? concordamos, como os defensores de bozo, que a ditadura foram os 13 anos de governo PT? A LJ teria se desenvolvido numa ditadura?”.

Em 2019, ela pediu desculpas a Lula por fazer piada com a morte de Marisa Letícia e do neto Arthur.

“Querem que eu fique pro enterro?”, escreveu no chat revelado na Vaza Jato. 

Joesley e Temer