“Lula tem razão em querer mediar com a China a guerra na Ucrânia”, diz ex-embaixador francês

Atualizado em 15 de abril de 2023 às 12:31
Jean de Gliniasty defende proposta de Lula em mediação com a China para guerra na Ucrânia.

A viagem de Lula para a China chamou a atenção na Europa. Na França, um programa de TV foi inteiramente dedicado a analisar a visita oficial do presidente brasileiro.

“O presidente brasileiro Lula na China: um jogo de equilibrista” foi o título do programa “Le Débat”, do canal France 24.

“Na agenda, a Ucrânia, para a qual Lula elaborou um plano de paz que pede à Rússia retire suas tropas nas zonas conquistadas há um ano na região do Donbass, mas também à Ucrânia para renunciar à Crimeia. Rejeição de Kiev e de Moscou”, introduz.

“20 acordos foram assinados (entre China e Brasil). O Brasil poderia entrar na rota da seda e em plena rivalidade entre Washington e Pequim Lula deseja se emancipar do dólar”.

“Essa viagem do presidente brasileiro marca também o retorno dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul) à cena internacional, o qual Lula pretende liderar”.

“Celso Amorim esteve na Rússia há quinze dias e eles certamente falaram de uma saída (para a Guerra na Ucrânia). O Brasil é um parceiro importante para a Rússia e para a China. O Brasil disse claramente que não deseja interpretar o papel de mediador sozinho, mas com os BRICS e essencialmente com a China”, lembra Jean de Gliniasty, ex-embaixador da França no Brasil e na Rússia, em sua participação no programa.

“Ele (Lula) tem razão. Por enquanto, quem pode exercer a mediação? Não é o bloco ocidental e a França, por enquanto, faz parte dele.”

“Ele tem uma carta na mão. Eu acho muito bem”, opina o também pesquisador do IRIS (Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas) da França.

“Lula quer se diferenciar de seu predecessor, Jair Bolsonaro, que havia feito diversas declarações pejorativas sobre a China”, lembra o Les Echos, principal jornal econômico do país.

“No setor comercial, Lula tem um duplo objetivo: exportar cada vez mais, eliminando principalmente certos entraves burocráticos no comércio de carne”.

“Segundo objetivo: diversificar o comércio e os investimentos, fazendo ouvir a diferença. Enquanto o Brasil exporta principalmente matérias primas, a China vende produtos de alto valor agregado”, lista Thierry Ogier, correspondente no Brasil.

“Lula e Xi buscam conciliar um caminho para as infraestruturas”, em alusão ao possível convite da China para a entrada do Brasil na rota da seda, projeto de financiamento chinês de infraestruturas pelo mundo. “Esse programa parece cair como uma luva para o Brasil, que busca atrair investidores para reduzir os custos da logística de exportação”.

“Em termos geopolíticos, no entanto, essa aproximação com a China poderia desagradar o campo ocidental”, aponta.

“Uma nova bomba, apenas dois meses depois do encontro entre Lula e Joe Biden em Washington”.

Na Espanha, o canal de televisão RTVE disse que a política externa de Lula é o destaque de seus 100 primeiros dias de governo.

“No setor econômico, está o maior desafio. Lula recuperou programas de sucesso, como o Bolsa Família, mas o Congresso deve ter de aprovar o novo marco fiscal para Lula aumentar os gastos”.

“É em política exterior que Lula se sente mais cômodo. Recuperou para o Brasil as relações com líderes internacionais. Já esteve na Casa Branca e nesta terça viaja à China”, afirma a Sagrario G. Mascaraque, correspondente na América do Sul. Uma referência ao isolamento do Brasil sob Bolsonaro.