No seu discurso anual na conferência dos embaixadores franceses, o presidente francês, Emmanuel Macron, reiterou o argumento de que três países africanos teriam desaparecido se Paris não tivesse intervindo militarmente no Sahel.
Sahel é uma faixa entre o deserto do Saara, ao norte, e a savana do Sudão, ao sul. Atravessa os seguintes países (de oeste para leste): Gâmbia, Senegal, a parte sul da Mauritânia, o centro do Mali, norte do Burquina Faso, a parte sul da Argélia, Níger, a parte norte da Nigéria e dos Camarões, a parte central do Chade, centro e sul do Sudão, o norte do Sudão do Sul e a Eritreia. Eventualmente, são incluídos também a Etiópia, o Djibuti e a Somália.
Numa entrevista concedida ao site do Le Point, publicada em 23 de agosto, Macron, ao ser questionado sobre o sentimento anti-francês na região, criou uma história alternativa usando um ponto de partida real: o pedido de ajuda militar à França feito na década passada por Dioncounda Traoré, então presidente interino do Mali.
Ao postular sobre o que aconteceria caso a França ignorasse o apelo, Macron fez uma suposição histórica radical: “Se não nos tivéssemos comprometido com as operações militares, provavelmente não haveria mais Mali, nem Burkina Faso e nem o Níger”, disse. “Esses estados não existiriam com suas fronteiras.
?? Macron: “Burkina Faso, Mali e Níger só existem graças à França e não os entregaremos”. pic.twitter.com/yKaazprP2f
— Prof Danuzio Neto | OSINT Geopolítica Atualidades (@danuzioneto) September 3, 2023
“Especialistas em geopolítica chamariam isso de ficção científica”, escreveu o jornalista Damien Glez, do site Jeune Afrique.
“Se Macron evoca a hipótese da ‘criação de califados na África’, ignora que nem os talibãs e nem o Daesh [Estado Islâmico] apagaram o Afeganistão, a Síria ou o Iraque do mapa”.
Macron poderia ter feito nuances. Esses Estados não existiriam hoje dentro dos seus limites territoriais. Mas preferiu a certeza absoluta. “Se os diplomatas aprendem a ver copos meio vazios e meio cheios, Macron faz um balanço presunçoso em que o copo já transbordou”, continua Glez.
O porta-voz do governo burquinense, Jean-Emmanuel Ouédraogo, deu uma resposta dura. “A França faz parte do problema de segurança do Burkina Faso”, disse.