Mad Max não seria a minha primeira escolha de filme. Gosto de Hollywood inteligente, como Pulp Fiction e Beleza Americana, filmes europeus filosoficamente instigantes, como A Vida Dos Outros e Em Nome de Deus, e fico por essa faixa. Claro que quando falo em Hollywood ou cinema europeu, falo mais de estilo que de posição geográfica. Mas não vou nem muito para baixo ou para cima disso. Os excessos dos dois lados me enchem o saco.
Mad Max não parecia estar dentro dessa faixa que me agrada, mas semana passada o DCM recebeu um convite da agência JWT para ver a pré-estréia de Mad Max numa exibição ligada à Coca-Cola. Para ser honesto, me convenceram ao dizer que teria Coca com pipoca (me interesso mais por isso do que por canapés com Veuve Clicquot).
Quem espera algo como Velozes e Furiosos se surpreende positivamente. Há uma crítica muito pertinente e atual às religiões, à fé cega, à política canalha, além de uma estética surrealista interessantíssima. Até me deixou interessado em assistir os anteriores.
Um grupo de refugiados atravessa o deserto numa espécie de caminhão-tanque liderados por Furiosa, uma imperatriz desertora. Em fuga de Immortan Joe, líder espiritual e bélico de uma cidade arruinada que considera seus filhos propriedade e cuja maior generosidade é jogar água por alguns segundos aos súditos, esse grupo se junta a Max numa fuga que parece Corrida Maluca meets Kill Bill.
Joe fomenta um fundamentalismo político-religioso que leva os soldados a agir como camicases na perseguição a Furiosa. “Eu vivo, eu morro, eu vivo de novo” é o que dizem ao se suicidarem em nome da causa, ao mesmo tempo que passam um spray prateado na boca e pedem que os companheiros testemunhem o ato heroico. Isso, lembremos, em nome de um tirano psicopata.
É provável que o autor tenha feito alusão aos grupos mais radicais do Oriente Médio, mas é assustadora a semelhança com algumas seitas e religiões do Brasil, e sua crescente influência no cenário político.
A cinematografia é espetacular. Há um surrealismo meio Salvador Dali meio OsGêmeos.
Numa mistura de artes performáticas com ginástica artística, as cenas de ação, onde muitas vezes se nega as leis da física, poderiam estar num espetáculo do Cirque Du Soleil.
Há problemas. Uma cena, em específico, fica deslocada – um certo “vale dos corvos” ou coisa assim, cujo cenário parece ser o mais interessante de todo o filme, mas que apenas aparece por alguns segundos.
Não gosto dos cortes em fade-out que há entre um “capítulo” e outro. Para mim não funciona.
Também não entendo o porquê de o filme ser Mad Max se, de fato, o personagem central da história não é o Max.
Não é filme para Cannes ou mesmo Oscar, mas é um Hollywood muito mais inteligente que a média, e sobretudo, muito mais inteligente do que pode parecer aos olhos desaviados como os meus.
Se eu fosse resumir em uma palavra, não seria “genial” ou “incrível”. Não chega a ser isso. Mas é surpreendente – eis a palavra adequada.