Maduro chama de volta embaixador no Brasil e amplia crise

Atualizado em 30 de outubro de 2024 às 14:50
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. Foto: Maxwell Briceno/Reuters

A Venezuela convocou seu embaixador em Brasília de volta nesta quarta (30) para “consultas”. O gesto simboliza um repúdio ao governo brasileiro, que vetou um convite a Nicolás Maduro como país parceiro dos BRICS na 16ª cúpula do grupo, realizada em Kazan, na Rússia, na última semana.

O Brasil também não reconheceu a vitória de Maduro na eleição presidencial da Venezuela, realizada em julho deste ano, por falta de transparência. A retaliação é um primeiro passo para a eventual retirada de representação no país.

Em nota, a gestão de Nicolás Maduro afirmou que a ação mostra seu “mais firme repúdio às recorrentes declarações intervencionistas e grosseiras de representantes autorizados pelo governo brasileiro”. A Venezuela citou nominalmente Celso Amorim, assessor especial da Presidência.

“Tem se comportando mais como um mensageiro do imperialismo norte-americano e se dedicado, de maneira impertinente, a emitir juízos de valor sobre processos que são responsabilidade exclusiva dos venezuelanos e de suas instituições democráticas”, diz o governo venezuelano.

O Brasil não reconhece a eleição de Maduro e Amorim afirmou, na última semana, que houve uma “quebra de confiança” na relação com a Venezuela, que prometeu entregar as atas do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) sobre a disputa no país e não divulgou os documentos.

Os presidentes da Venezuela, Nicolás Maduro, e do Brasil, Lula. Foto: André Borges/EFE

O governo venezuelano ainda afirma que as declarações do assessor “constituem uma agressão constante que mina as relações políticas e diplomáticas entre os Estados, ameaçando os laços que unem os dois países”.

A manifestação do governo Maduro ainda chama o veto do Brasil ao convite à Venezuela como país parceiro dos Brics como uma “atitude antilatino-americana”.

“Denunciamos, também, o comportamento irracional dos diplomatas brasileiros que, contrariando a aprovação do restante dos membros dos Brics, adotaram uma política de bloqueio, semelhante à política de Medidas Coercitivas Unilaterais e de punição coletiva ao povo venezuelano” prossegue o comunicado.

Caso decida romper as relações com o Brasil, assim como fez com Chile, Argentina, Peru e outros países vizinhos, Maduro pode decidir não enviar o embaixador de volta ao Brasil ou expulsar seu corpo diplomático.

Leia a nota do governo da Venezuela na íntegra:

O Ministério do Poder Popular para as Relações Exteriores da República Bolivariana da Venezuela convocou, hoje, o encarregado de negócios da República Federativa do Brasil, com o objetivo de manifestar seu mais firme repúdio às recorrentes declarações intervencionistas e grosseiras de representantes autorizados pelo governo brasileiro, em particular as feitas pelo assessor especial de Assuntos Exteriores, Celso Amorim, que, comportando-se mais como um mensageiro do imperialismo norte-americano, tem se dedicado, de maneira impertinente, a emitir juízos de valor sobre processos que são responsabilidade exclusiva dos venezuelanos e de suas instituições democráticas.

Tais declarações constituem uma agressão constante que mina as relações políticas e diplomáticas entre os Estados, ameaçando os laços que unem os dois países.

Da mesma forma, foi manifestado o total repúdio à atitude antilatino-americana, contrária aos princípios fundamentais da integração regional expressos na Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) e na longa história de unidade na nossa região. Essa atitude foi consumada pelo veto aplicado pelo Brasil na cúpula dos Brics em Kazan, pelo qual a Venezuela foi excluída da lista de convidados como membros associados da referida organização.

Denunciamos, também, o comportamento irracional dos diplomatas brasileiros que, contrariando a aprovação do restante dos membros dos Brics, adotaram uma política de bloqueio, semelhante à política de Medidas Coercitivas Unilaterais e de punição coletiva ao povo venezuelano.

Foi expressado que a Venezuela reserva-se, no marco de sua política exterior, o direito de tomar as ações necessárias em resposta a essa postura, que compromete a colaboração e o trabalho conjunto desenvolvidos até então em todos os espaços multilaterais.

Por fim, informamos à comunidade nacional e internacional que, seguindo instruções do presidente Nicolás Maduro Moros, decidiu-se convocar imediatamente para consultas o embaixador Manuel Vadell, que exerce nossa representação em Brasília.

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