Pela primeira vez desde o início do conflito entre Venezuela e Guiana, o presidente venezuelano Nicolás Maduro amenizou seu discurso sobre a região do Essequibo, expressando que ambos os países precisarão dialogar sobre a questão territorial.
Neste sábado (9), Maduro postou no X (ex-Twitter): “A Guiana e a ExxonMobil terão que sentar e conversar conosco, o Governo da República Bolivariana da Venezuela. De coração e alma, queremos paz e entendimento”.
A ExxonMobil, uma corporação petrolífera dos EUA, realiza a extração de petróleo na Guiana.
Essa mudança de tom de Maduro ocorre após ele realizar um referendo, desafiando a proibição da Corte Internacional de Justiça, sobre a anexação do território guianense. Após a votação, a Venezuela divulgou um mapa incluindo Essequibo como parte de seu território.
Preocupado com a crise, o presidente Lula (PT) defendeu a negociação durante uma ligação com Nicolás Maduro, também no sábado (9).
“O presidente Lula expressou a crescente preocupação dos países sul-americanos com a questão do Essequibo. Apresentou a declaração sobre o tema, aprovada na Cúpula do Mercosul e assinada por Brasil, Uruguai, Paraguai, Argentina, Colômbia, Peru, Equador e Chile”, informou o governo brasileiro.
Guyana y ExxonMobil se tendrán que sentar a dialogar con nosotros, el Gobierno de la República Bolivariana de Venezuela. Desde el corazón y del alma, queremos Paz y entendimiento. ¡Por las buenas, todo! ¡Qué lo escuche el mundo, con el Acuerdo de Ginebra, Todo!
— Nicolás Maduro (@NicolasMaduro) December 9, 2023
Tanto a Guiana quanto a Venezuela reivindicam o território baseados em documentos históricos. A Guiana alega posse do território com base em um laudo de 1899, realizado em Paris, que definiu as atuais fronteiras. Na época, a Guiana era uma colônia do Reino Unido.
A Venezuela, por outro lado, afirma que Essequibo lhe pertence conforme um acordo de 1966 com o Reino Unido, antes da independência da Guiana, que anulou o laudo arbitral de 1899 e estabeleceu as bases para uma solução negociada. Essas decisões são conflitantes. Segundo o especialista em geopolítica Ronaldo Carmona, da Escola Superior de Guerra e pesquisador do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), o impasse de Essequibo é um vestígio do colonialismo na região.
Essequibo (ou Guiana Essequiba, como é chamado na Venezuela) é uma área densamente florestada e antes não despertava grande interesse econômico. No entanto, em 2015, descobriu-se petróleo na região. Estima-se que a Guiana tenha reservas de 11 bilhões de barris de petróleo, principalmente offshore, perto de Essequibo. O petróleo tem sido um fator de crescimento econômico acelerado para a Guiana.
A disputa intensificou-se devido ao petróleo, com a Venezuela argumentando que a Guiana está comercializando blocos petrolíferos que não lhe pertencem.