A mãe de Selena Sagrillo, menina de 12 anos morta no ataque de Aracruz, no Espírito Santo, quer que a partida de sua filha seja o começo “de uma nova revolução, baseada no amor e segurança para nossas crianças de todas as etnias, regionalidade, classe social e crença”. Thais Fanttini Sagrillo Zuccolotto escreveu essas palavras em uma carta que divulgou na noite de sábado (26), em que compartilha o sofrimento pela morte da filha. Leia a carta na íntegra no final da página.
Selena estava no 6º ano e estudava na escola que foi invadida por um atirador com uma suástica nazista na sexta-feira (25). A menina estudava seus últimos dias naquela instituição, porque a família iria se mudar para a Bahia. Thais diz ter escrito a carta no quarto de Selena, onde encontrou um diário em que ela escrevia sobre a vida: “Sentada em meio ao pequeno caos criativo que era seu quarto, encontrei um texto que (…) dizia: ‘Vai ter um dia em que o mundo inteiro vai estar do seu lado, e esse dia é hoje. Eu esperei minha vida inteira. E tudo está bem.’ (…) Realmente o dia estava próximo para minha filha”, diz um trecho.
“Clamo por piedade e por segurança para nossas crianças serem as milhões de pequenas revoluções que elas poderiam ser. Segurança nas escolas, ruas, casas”, escreve Thais. A mãe de Selena lamenta não poder acompanhar mais conquistas da filha: “Jamais verei do que ela seria capaz. Ela estava se tornando uma mulher poderosa, alma livre, feminina. A promessa de uma vida inteira foi desfeita. Todo um futuro interrompido. A custo do ódio, do desamor, do terror”.
“Que a partida da Selena seja o início de uma nova revolução, assim como ela gostava, mas uma revolução baseada no amor e segurança para nossas crianças de todas as etnias, regionalidade, classe social e crença”, escreve no final.
Leia, abaixo, a carta da mãe de Selena na íntegra:
“Escrevo este texto do computador e quarto de minha filha Selena, que agora amargam sua ausência. Escrevo, pois não tenho mais voz para falar, não tenho mais lágrimas para chorar.
O lamento, a dor e angústia que estavam no meu peito antes, agora, começam a dar lugar ao sentimento de entendimento, aceitação e saudade.
Sentada em meio ao pequeno caos criativo que era seu quarto, encontrei um texto que falou tão profundamente em meu coração que não consigo deixar de compartilhar com vocês, que tanto estão nos dando forças neste momento. O texto dizia:
‘Vai ter um dia em que o mundo inteiro vai estar do seu lado, e esse dia é hoje. Eu esperei minha vida inteira. E tudo está bem. Completei meus 11 anos e tinha voltado ao bairro e a escola que cresci depois de dois anos em São Mateus (ES), e eu disse: Vai um dia que o mundo inteiro vai estar do seu lado, e esse dia está próximo.’
Realmente o dia estava próximo para minha filha. Havia 1 mês e cinco dias que ela havia completado 12 anos. O dia de sua morte, dia 25/11, foi também o dia do aniversário de meu pai, e seu avô Jose. Dia 01/12 será aniversario de seu outro avô, Laudérico. Daqui a trinta dias será Natal. Minha filha não verá os próximos jogos da copa do mundo e nunca mais se empolgará com um gol como aquele do Richarlyson, que ela achou ‘incrível’.
Jamais verei do que ela seria capaz. Ela estava se tornando uma mulher poderosa, alma livre, feminina. A promessa de uma vida inteira foi desfeita. Todo um futuro interrompido. A custo do ódio, do desamor, do terror. Não venho aqui clamar por retaliação, pois de ódio, estou farta.
Clamo por piedade e por segurança para nossas crianças serem as milhões de pequenas revoluções que elas poderiam ser. Segurança nas escolas, ruas, casas. Abrigadas e protegidas de todos os desterros do mundo. Longe da violência, drogas, armas e abusos.
Que a partida da Selena seja o início de uma nova revolução, assim como ela gostava, mas uma revolução baseada no amor e segurança para nossas crianças de todas as etnias, regionalidade, classe social e crença.
Esse é um lamento e um grito de uma mãe que padece com a perda de uma filha. Peço que nos mandem orações, amor, energias boas, seja qual for sua crença. Que o mundo se una pela Selena, assim como ela escreveu em seu texto, e por tantas outras Selenas pelo mundo”.
Ass. Thais Fanttini Sagrillo Zuccolotto