Comandada por um bolsonarista, Renato Spallicci, a Apsen Farmacêutica recebeu no ano passado R$ 20 milhões em empréstimo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A empresa é a maior produtora de hidroxicloroquina no Brasil, medicamento amplamente propagandeado pelo presidente Jair Bolsonaro para “tratamento precoce” de covid-19, apesar da comprovada ineficácia contra a doença causada pelo coronavírus. O montante, apenas a primeira parte de um total de R$ 153 milhões previsto em dois contratos, é sete vezes maior do que o crédito obtido pela empresa nos 16 anos anteriores.
De acordo com a Folha de S.Paulo, o primeiro contrato foi assinado em fevereiro de 2020, prevendo quase R$ 95 milhões para investimentos em “inovação”. Os R$ 20 milhões, repassados em março, são parte dessa quantia. A rigor, os recursos não podem ser aplicados na fabricação de medicamentos já existentes. Já o segundo contrato, de R$ 58 milhões, foi assinado em junho e é para ampliar a capacidade produtiva da farmacêutica.
Sendo o BNDES um banco com a finalidade de desenvolvimento econômico, oferece empréstimos a juros mais baixos do que os costumeiramente praticados pelo mercado. Aparentemente, porém, a Aspen não precisa desses recursos. A empresa registrou faturamento recorde de quase R$ 1 bilhão ano passado, alta de 18% em relação a 2019. O volume foi impulsionado pelas vendas de hidroxicloroquina, responsável por 2,7% da alta. Foram vendidas aproximadamente 2 milhões de caixas do medicamento em 2020, número 117% maior do que o do ano anterior.
Garoto-propaganda
O presidente da Apsen, Renato Spallicci, é notório apoiador de Bolsonaro, o principal garoto-propaganda da hidroxicloroquina no Brasil. O presidente mostra sempre a caixinha do remédio. Apresenta-a como troféu ou para ilustrar cenas visando à propagação em redes, como a feita ao lado de um ema. A CPI da Covid apurou o direcionamento de políticas para estimular o uso da medicação, a maioria via Ministério da Saúde sob gestão Pazuello.
A relação do governo federal com empresas que lucraram com a venda de remédios do tratamento precoce é tema que vem ganhando força na CPI. No começo do mês, em entrevista ao programa Revista Brasil TVT, o senador e vice-presidente da comissão, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), disse que o interesse do governo Bolsonaro em promover a cloroquina foi motivado “por dinheiro”. “Temos provas disso na CPI”, afirmou.