A revista alemã Der Spiegel, uma das mais prestigiadas do mundo, maior semanal da Europa com 1 milhão de cópias, colocou Jair Bolsonaro numa chamada de capa: “O machado na floresta tropical – Presidente do Brasil reduz o pulmão do planeta”.
Bolsonaro, diz a reportagem, “quer abrir territórios indígenas protegidos na Amazônia para mineração, pecuária e agricultura. A decisão pode ser fatal para o clima global”.
Alguns trechos:
Vista de cima, a destruição parece um pouco com o esqueleto de um peixe. “Primeiro os madeireiros constroem uma estrada para os tratores, então eles constroem estradas na floresta para que possam transportar as árvores”, diz Adriano Karipuna, chefe da tribo Karipuna, na região amazônica do Brasil.
A organização ambientalista Greenpeace forneceu fotos de satélite. Seu território protegido pode ser visto nas imagens como um ponto verde alongado, 153.000 hectares (378.071 acres) de floresta tropical predominantemente virgem. Ao redor, há manchas brilhantes – fazendas de gado e campos cultivados com grãos de soja. De suas bordas, trilhas abrem caminho para o território indígena.
“Uma vez que os invasores tiraram a madeira, eles dividiram nossa terra em lotes e a venderam”, diz Karipuna. O homem de 32 anos está vestindo jeans e camiseta e está no escritório da organização de ajuda indígena Cimi em Porto Velho, a capital do estado de Rondônia. (…)
Bolsonaro, por sua vez, é amigo de criadores de gado, lenhadores, garimpeiros e produtores de soja – os mesmos que representam uma ameaça à floresta tropical. Seus representantes no Congresso Nacional, os representantes da indústria agrícola brasileira, têm um poderoso lobby, e apoiaram Bolsonaro durante sua campanha eleitoral.
Ele agora está mostrando sua gratidão com um gesto que ameaça a maior floresta tropical do planeta. Um dia depois de assumir o cargo, despojou a Fundação Nacional do Índio (Funai), responsável pela proteção dos povos indígenas desde 1967, de seu poder. De acordo com a Constituição Brasileira, a autoridade é encarregada de identificar os habitats tradicionais dos povos indígenas e designá-los como territórios protegidos e invioláveis. (…)
Mas isso é história agora. Desde então, Bolsonaro delegou essa função ao Ministério da Agricultura, que é liderado por Tereza Cristina, representante do lobby agrícola. Seu ministério é agora responsável pela administração dos territórios protegidos. A nova ministra ganhou o apelido de “musa do veneno” por sua defesa de uma lei que levantaria restrições ao uso de pesticidas. É improvável que ela resista aos planos do presidente de abrir os territórios indígenas para pecuaristas, agricultura e mineração. (…)
É essa teoria da conspiração que impulsiona Bolsonaro. Sua política amazônica nem mesmo leva em conta a política econômica do próprio país, muito menos os efeitos que teria sobre a mudança climática. A política é parte de uma contra-revolução de direita. (…)
Ele declarou o fim da era da corrupção, os privilégios e vantagens que a classe política ganhou. “Vamos restaurar a ordem”, prometeu Bolsonaro. Os ilustres convidados nas arquibancadas aplaudiram suas palavras – incluindo o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, o primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán e Mike Pompeo, secretário de Estado de Donald Trump.
Bolsonaro se vê como um pioneiro em uma revolução cultural global de direita. Como Trump, ele não se importa muito com os acordos multilaterais e pode tentar romper acordos assinados por seus antecessores. E como Trump, ele coloca os interesses dos negócios acima de tudo, especialmente a política ambiental, e Bolsonaro também considera a mudança climática como uma fantasia. Ele preencheu três cargos importantes no gabinete com ideólogos que devem impulsionar a transformação: o Ministério da Educação, o Ministério da Família e o Ministério das Relações Exteriores.
O novo ministro da Educação é Ricardo Vélez Rodríguez, um teólogo e filósofo cujo objetivo declarado é o de “limpar” o sistema educacional de supostos esquerdistas. A pastora evangélica Damares Alves, que quer avançar com o trabalho missionário entre os povos indígenas, tornou-se ministra da família e anunciou em um vídeo que as meninas deveriam vestir roupas cor-de-rosa e os meninos roupas azuis.
Enquanto isso, Bolsonaro está considerando se retirar do acordo climático de Paris, assim como Trump. O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, descreveu a mudança climática como uma invenção marxista e sob pressão de Bolsonaro, uma conferência internacional sobre o clima programada para ser realizada no Brasil neste ano teve que ser transferida para outro país.
Os cientistas consideram a destruição da floresta tropical um fator importante na mudança climática global, e uma retirada do acordo de Paris pelo presidente seria uma reversão radical das políticas de seus predecessores. Cerca de 20% da floresta tropical já foi destruída. (…)